Butler: dá logo o Oscar para ele!
Vendo Elvis de Baz Luhrman, lembrei quando ouvi aquele CD, o #1Hits (a famigerada coletânea com os maiores hits do Rei do Rock) e minha irmã caçula disse que preferia ver as apresentações dele cantando. Na hora eu disse que não tinha entendido, ela sabiamente respondeu "você acha que a gente gosta dele só por causa da voz?". Este é o espírito que esta cinebiografia dirigida pelo australiano Baz Luhrman consegue captar com perfeição. Embora as músicas do cantor esteja imortalizada em um legado inquestionável, o filme tenta reproduzir o impacto da figura de um branco cantando músicas de inspiração na música negra americana com toda a ginga, rebolado e entonações vocais numa época em que segregação e conservadorismo eram [sic?] palavras de ordem. Quem conhece Baz Lurhman sabe que ele sempre capricha no visual, mas seu cinema não se conectava com o público desde Moulin Rouge (2001). Suas andanças pela seara dos épicos românticos (Austrália/2008) e das refilmagens (O Grande Gatsby/2013) não agradaram os críticos ou as plateias com seus resultados fora do tom. Aqui, com o perdão do trocadilho, nada está fora do tom. Baz demonstra principalmente ser um expert em construir uma narrativa musical de forma inebriante (vale lembrar que seu primeiro grande sucesso, Vem Dançar Comigo/1992 também tinha nas músicas um instrumento narrativo fundamental). Aqui, ele conta a história do garoto de Memphis nascido em 1935 e o impacto da música negra em sua vida desde pequeno. Se você acha a tensão racial nos Estados Unidos hoje acirrada, você não faz ideia de como era naquele tempo. O filme deixa claro como tirou a sonoridade que seria conhecida como rock do gueto especialmente pelo impacto de sua figura sobre as plateias femininas (e masculinas, já que mexia com as fantasias de ambos os lados). Nesta empreitada, Baz controla sua tradicional montagem picotada para que possamos apreciar ainda mais seu visual irresistível, tão colorido e luminoso quanto sedutor. No entanto, quem bilha mesmo é o pouco conhecido Austin Butler (e o fato de deixar seus cabelos louros em tons negros para o filme o torna ainda mais difícil de ser reconhecido). Butler é mais conhecido por fãs dos seriados Arrow e Carrie Diaries, mas até então não havia realizado nada tão grandioso quanto a sua encarnação de Elvis Presley, porém, parece que Baz Luhrman encontrou o ator num centro espírita da Califórnia e o escalou para personificar o protagonista. Butler faz um trabalho fenomenal de expressão facial e corporal, de forma que em poucos instantes você acredita que Elvis não morreu! Dando conta dos momentos mais dramáticos e mais, digamos, incandescentes do personagem sobre um palco, o ator já está cotado para o Oscar do ano que vem (e com chances verdadeiras de levar a estatueta para casa). Repleto de sucessos do Rei e números de palco, o filme pega leve no lado sombrio do astro (o vício em drogas, as traições, a crise no casamento e a decadência) para homenagear a importância do artista, mas destaca bastante sua conflituosa relação com o misterioso Coronel Tom Parker (Tom Hanks), um oportunista que percebeu todo o potencial do rapaz quando ele ainda era desconhecido. Embora muita gente considere que Hanks esteja caricato no papel e que a narrativa seja chapa branca demais, o que mais me incomodou foi alguns aspectos cafonas do roteiro quando resolve falar do amor dos fãs por Elvis, especialmente naquela parte final. O ideal era que o filme terminasse naquela última cena do cantor se despedindo da esposa Priscilla (Olivia DeJonge) que daria conta da emoção necessária para ficar na memória da plateia que sai animada do cinema. P.S.: fiquei com vontade de enviar uma carta para Baz Luhrman e sugerir mais três biopics, as próximas seriam de David Bowie, Bob Fosse e Cher. Acho que o visual do diretor faria a diferença para contar estas carreiras extraordinárias!
Elvis (EUA - Austrália) de Baz Luhrman com Austin Butler, Tom Hanks, Olivia DeJonge, Kodi Smit-McPhee, David Wenham, Luke Bracey, Helen Thomson e Richard Rocburgh. ☻☻☻☻
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