Julie Christie e Gordon Plinsent: entre Alzheimer e provas de amor.
A canadense Sarah Polley é uma atriz famosa no cinema independente. A última vez que a vimos nos cinemas brasileiros foi em Splice (2010) ao lado de Adrien Brody - onde deu uma força para o compatriota Vincenzo Natali naquele que poderia ter sido o melhor filme do diretor. Antes deste sci-fi sobre experiência genética, Polley surpreendeu muita gente em sua primeira aventura como diretora de longa-metragem, o resultado foi tão elogiado que acabou lhe rendendo uma indicação ao Oscar de roteiro adaptado para o seu trabalho na escrita de Longe Dela. Além do trunfo do roteiro sensível e bem costurado, o filme ainda conta com uma inpirada atuação da diva Julie Christie que lhe rendeu vários prêmios e que só perdeu o Oscar porque o mundo estava descobrindo o fascínio que Marion Cotillard era capaz de provocar na pele de Piaf (2006). Se Christie houvesse ganho, o prêmio estaria em boas mãos. Na pele de Fiona, a atriz alcança mais um de seus grandes momentos no cinema - não vou nem considerar que nos últimos anos se dedicou a pontas minúsculas em Harry Potter e no emblemático papel da vózinha no micado A Garota da Capa Vermelha (2011). Desde a primeira cena sabemos que Fiona é uma mulher forte e fascinante, mas que começa a lidar com as armadilhas da memória que começa a apresentar traços de Alzheimer. São brilhantes as cenas isoladas que são mostradas no início onde ela confessa que vive saindo de casa em busca de uma coisa que não lembra o que é, ou até mesmo quando não sabe se uma flor em que toca é quente ou se é apenas o efeito de sua imaginação. Curioso é que o filme se dá ao luxo de abordar a situação de sua protagonista através de seu esposo, Grant (o pouco conhecido Gordon Plinsent). Fica claro, que Fiona foi sempre a grande condutor de uma relação que dura mais de quarenta anos - e que o esposo sente caláfrios só de imaginar que ficará longe dela se algo pior acontecer. Quando é encontrada por ele vagando pela cidade, Fiona deixa clara a sua preocupação e sua internação numa instituição torna-se inevitável. O esposo hesita, especialmente quando descobre que mediante as regras do local, ficará trinta dias sem vê-la. Contrariado ele aceita e a trama de Longe Dela, que já nos comovia desde o início segue por caminhos desconhecidos ao explorar a relação entre este casal. Passado os trinta dias, Fiona não reconhece mais o esposo e para piorar vive com outro paciente por perto, por Aubrey (Michael Murphy), Fiona mostra-se mais apaixonada do que deveria. É neste momento que Polley demonstra seus maiores méritos como diretora, com uma sensibilidade incrível ela consegue dissecar a relação quase platônica que se estabelece no coração de Grant, ao imaginar que um dia ela lembrará dele novamente. Nada é óbvio em Longe Dela, e por isso seu desfecho mostra-se tão imprevisível e emocionante, algo notável para um drama de poucos personagens e trama simples, mas exemplarmente desenvolvida. Polley não perde nenhum de seus coadjuvantes de vista, sempre buscando cenas reveladoras sobre eles (especialmente a enfermeira bondosa e que demonstra saber ler as entrelinhas da relação entre os protagonistas numa cena muito sutil e reveladora) ou a esposa do Aubrey (vivida pela veterana Olimpia Dukakis). Christie merece todos os elogios por sua atuação, mas ela é seguida de perto por Plinsent, que consegue criar várias camadas num personagem difícil com a personalidade girando em torno da esposa. Banhado em melancolia, Longe Dela é um dos melhores filmes de amor que já vi e termina com a voz de K.D. Lang entoando os versos de Helpless ajudam um bocado para comover a plateia.
Longe Dela (Far From Her/Canadá-2006) de Sarah Polley, com Julie Christie, Gordon Plinsent, Olimpia Dukakis e Michael Murphy. ☻☻☻☻
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