Guest (ao centro) e sua patota: queridamente ridículos.
Talvez por ter passado a maior parte de minha vida sendo extremamente tímido eu admire tanto quem não tem medo do ridículo. Christopher Guest entrou recentemente na minha lista de queridos ridículos quando vi sua atuação em Esperando por Guffman, filme dirigido por ele mesmo no ano de 1996. Sua carreira como ator é até bem prolífica, tendo feito inúmeras participações especiais em comédias, mas vê-lo como protagonista de um de seus mockumentaries... não tem preço. Ainda mais que interpreta um sujeito tão esquisito como Corky St. Clair, que é convidado por sua cidade, a pequena Maine no estado de Missoury, para fazer uma dramatização sobre a história local. Para a empreitada começa a realizar testes que acaba selecionando um casal de atores decadentes que se dedicam atualmente à carreira de guias turísticos (Catherine O'Hara e Fred Willard), o sério dentista da cidade (Eugene Levy, que também assina o roteito ao lado do diretor), uma jovem sem perspectivas (Parker Posey), um mecânico inexpressivo com pinta de galã (Matt Kesslar) e um velhinho com mais talento do que parece (Lewis Arquette). Para conduzir esse elenco sem muita experiência ele conta com o professor de música com delírios de grandeza da (Bob Balaban) e um bocado de boa vontade. Precisa dizer que os ensaios são um desastre? A graça vem mais uma vez do estilo de Guest em conduzir a narrativa como um saboroso documentário fake, repleto de revelações que não deveriam ser sugeridas, sorrisos amarelos e aquela graça que consegue extrair de um bando de personagens comuns com suas esperanças de sair do anonimato. A busca pelo sucesso é recorrente nas tramas de Guest e desta vez, a promessa de uma grande transformação na vida dos personagens fica pela confirmação da vinda de um renomado crítico da Broadway para ver o tal espetáculo. Com o título inspirado no clássico do dramaturgo Samuel Beckett (Esperando Godot), o roteiro explora o efeito desta visita em um grupo de atores amadores, especialmente em seu diretor, o Sr. Gorky St. Clair. Guest faz o personagem com tanta afetação que desde o início sabemos que o fato dele ser casado com uma mulher é uma invenção (e o fato de ninguém na cidade conhecê-la só comprova o fato) e não satisfeito, ainda o faz delirar pedindo ao governo local um orçamento de 100 mil dólares para fazer uma pecinha modesta na comunidade. Os delírios de grandeza de Gorky chegam ao auge no dia da apresentação, quando o filme alcança seus momentos mais engraçados (e fica a sensação de que o diretor conseguiu construir sua própria companhia de atores, já que trabalha quase sempre com os mesmos parceiros: O'Hara, Levy, Posey, Willard...). O humor de Guest pode até parecer bobo, mas alcança momentos brilhantes (como a chegada do disco voador na peça e a lancheira com o cartaz do sisudo filme Vestígios do Dia são de rolar de rir). Ainda que o final recaia na melancolia recorrente nos desfechos do diretor, o resultado ainda é muito engraçado.
Esperando Sr. Guffman (Waiting for Guffman/EUA-1996) de Christopher Guest com Christopher Guest, Catherine O'Hara, Eugene Levy, Parker Posey e Bob Balaban. ☻☻☻☻
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