Hawkins (ao centro): luta por igualdade salarial e sexual.
Nigel Cole é um diretor fascinado por atrizes, ou seria por mulheres comuns em situações inusitadas? Em O Barato de Grace (2000) Brenda Blethyn descobria que podia ganhar uns trocados cultivando e vendendo maconha, em Garotas do Calendário (2003) Helen Mirren e suas amigas senhoras resolvem posar nuas para ajudar a comunidade. Agora é a vez de Cole contar a história real de Rita O'Grady (Sally Hawkins, a premiada atriz de Simplesmente Feliz/2008), uma mulher que na década de 1960 se divide entre os afazeres de casa e a vida de operária na fábrica da Ford na pequena Dagenham. Rita e suas 186 companheiras de trabalho são responsáveis por costurar os forros dos carros produzidos. Quase que por acaso, a tímida Rita é escolhida para representar as operárias numa reunião sindical depois da mudança de categoria da classe (de semi-especializada para não especializada). Não demora muito para perceber que naquela reunião da empresa com o sindicato as cartas já estavam marcadas e ela não tinha muito o que fazer além de escutar. Sorte que Rita nota que aquela era a chance de mudar a vida das operárias e começa a sua carreira de líder das companheiras. De uma paralisação de 24 horas, elas acabam iniciando uma greve que revela os meandros das relações entre os sexos na tranquila Dagenham. Se as mulheres apoiaram os homens nas greves passadas - e no início até despertam alguma simpatia - essa parceria não é correspondida, quando a não fabricação dos forros impedem que os carros sejam terminados. Os conflitos em Dagenham começam a aparecer não apenas entre os maridos e esposas, mas entre os homens e mulheres em geral afetando a relação entre operárias. Cole não deixa de produzir um filme simpático (como todos os outros assinados por ele), mas perde muito de sua força ao suavizar demais as relações em conflito. O mais revelador da trama é a relação interna do sindicato, onde homens e mulheres permanecem vistos com pesos diferentes - e que no momento do impasse entre os dois toma as dores masculinas e hesita em apoiar as operárias (chegam a citar a versão mais distorcida que Karl Marx pode gerar). Cole poderia dar mais seriedade à atmosfera do filme, mas sua intenção não era fazer um filme de verve política, mas contar a história de um grupo de mulheres que fizeram a diferença - no entanto, não acredito que as dificuldades encontradas por elas fossem apenas leves alfinetadas em tabus e preconceitos. Apesar de exagerar na leveza (e fazer todas as situações caminharem sempre para o previsível) o diretor tem sorte de contar com atrizes inspiradas para viver as mulheres de sua trama. Hawkins demonstra mais uma vez que consegue carregar um filme nas costas, Rosamund Pike tem bons momentos como a esposa inteligente usada como enfeite pelo esposo executivo e Miranda Richardson faz o que pode como uma Ministra unidimensional. Além delas o filme ainda conta com dois acréscimos visuais: Jaime Winstone (que interpreta Sandra, que reproduz o visual de Twiggy, que muitos consideram a primeira top model) e Andrea Riseborough (que reproduz o penteado usado pela militante Brenda - que é o mesmo celebrado 'bolo' usado por Amy Winehouse. Apesar de divertido e bem produzido, Cole se distancia cada vez mais a saudável audácia de seu maior sucesso, O Barato de Grace.
Revolução em Dangenham (Made in Dangenham/Inglaterra-2010) de Nigel Cole com Sally Hawkins, Bob Hoskins e Miranda Richardson. ☻☻☻
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