domingo, 2 de outubro de 2011

FILMED+: Um Dia de Cão


Pacino: a melhor atuação de uma carreira.

Quando vi Um Dia de Cão pela primeira vez eu devia ter uns doze anos e não era capaz de captar todo brilhantismo com que o filme foi executado. Lembro que ri um pouco da multidão que acompanha as desventuras de Al Pacino em seu caótico assalto a banco e de alguns personagens que pareciam ter saído de alguma novela das sete (naquela época as novelas da sete eram altas comédias de gargalhar com vontade), mas lembro de já ter notado que o filme estava longe de ser uma comédia. Era um filme triste e seu final deixava isso bem claro. Vinte anos depois revi o filme e é impressionante este trabalho de Pacino nas mãos de Sidney Lumet. Poucos clássicos merecem ser chamados assim com tanta justiça quanto este. Além de se tratar de uma obra-prima, o filme ainda carrega as marcas do tempo em que foi feito com uma propriedade excepcional. O filme se passa na década de 1970, quando Sonny (Pacino) resolveu assaltar um banco pela manhã com dois amigos, um deles desiste logo no início (e nem aparece mais na história), o outro, Sal (John Cazale) é a contradição em pessoa em mostrar-se temente a Deus enquanto segura uma arma em direção aos reféns. O problema maior da situação é que Sonny se dá conta de que no cofre existe pouco mais de mil dólares, já que o dinheiro já fora recolhido, e ao tentar sair do banco, percebe estar cercado pela polícia. Sidney Lumet realiza um trabalho excepcional ao aumentar a tensão de seu protagonista gradativamente e considero difícil que um ator pudesse dar mais magnetismo a Sonny do que Pacino. Basta ver a primeira cena em que percebe a enrascada em que se meteu para torcer para que no fim tudo acabe bem para ele. Eu sei que estou falando de um ladrão, mas aos poucos Lumet mostra que o personagem é muito mais rico do que a aquela situação é capaz de evidenciar - essa sensação só aumenta quando ele conversa com a polícia pela primeira vez diante da multidão de civis que se aglomera em frente ao banco e todos parecem estar torcendo por ele (inclusive os reféns, que assim que as polícia surge, parecem se sentir mais ameaçados por eles do que pelos bandidos). Devo ressaltar que além de Pacino, todo o elenco está muito bem, não só Charles Durning (que faz o policial que negocia os reféns com Sonny) como todos os reféns (destaque para Penny Allen, a gerente que coordena quais os reféns devem ser liberados pelo ladrão, afinal, estão sob responsabilidade dela no local de trabalho). Me impressiona como aos poucos a trama se exterioriza, colocando em cena os personagens que estavam aos redor de Sonny antes da confusão. São mostrados sua esposa obesa com duas filhas, sua mãe descontrolada e, finalmente, seu amante Leon (Chris Sarandon, discreto e convincente). Leon é o grande estopim da confusão, amante de Sonny, a confusão se arma quando um psicólogo diz que o cara é uma mulher presa num corpo de homem. Ao ver o amante (se bem que o roteiro diz que os dois se casaram) deprimido com a situação, Sonny resolve roubar o banco. Apesar de gerar em torno de um casal gay o filme não faz estardalhaço ou não motiva o escândalo, mas registra como a revelação de sua homossexualidade pesa mais sobre o público que assiste ao assalto do que o fato dele ser um ladrão. Existe um deboche aqui e outro ali, um desconforto de Sal de ser considerado um cúmplice homossexual, Sonny percebe a diferença no ar... Este pequeno detalhe só enriquece ainda mais a atuação de Pacino, que demonstra sua vulnerabilidade desde a primeira cena e pequenos gestos que evidenciam seu "segredo". Além desse tempero GLS, o filme ainda tem vários elementos de contracultura (a polícia gerando insegurança, os marginalizados que torcem por Sonny, os militatnes gays que aparecem de repente...). Mas, em momento algum, Lumet debocha de seus personagens e motivações. Sem deixar que tudo caminhe para o pastiche, Lumet realiza um grande filme deixando sempre a sensação de que um assalto nunca irá terminar bem, não importa a nobreza das intenções do assaltante. Isso sem falar que ver Pacino em um de seus melhores momentos (eu considero O MELHOR MOMENTO DE AL PACINO) é fenomenal! O filme concorreu a 5 Oscars (filme, diretor, ator, ator coadjuvante/Sarandon e roteiro), mas só ganhou um (roteiro) o que prova que clássicos se fazem mais com talento do que com prêmios. 

UM DIA DE CÃO (Dog Day Afternoon/EUA-1975) de Sidney Lumet, com Al Pacino, Charles Durning, John Cazale, Lance Henriksen, Carol Kane e Chris Sarandon. 

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