A Família em sua casa dos sonhos: Trotes mal resolvidos em casa mal assombrada.
Já viram uma criança fazendo um desenho sobre o papel com o maior cuidado, aos poucos a figura ganha forma, definição, o traço se torna firme e quando você pensa que ela vai concluir sua obra ela começa a rabiscar tudo da forma mais aleatória possível, destruindo tudo que havia realizado? É essa a impressão que tive ao assistir este longa dirigido por Jim Sheridan e estrelado por um trio de encher os olhos: Rachel Weisz, Naomi Watts e Daniel Craig. O filme começa cheio de clima, com um homem que resolve se mudar com a família para a casa que sempre quis, lá planeja concluir o livro que tenta escrever mas as coisas não saem conforme o planejado. Sei que esse início já é um enorme clichê já que serviu de premissa para clássicos como O Iluminado (1980) de Stanley Kubrick e outras obras não tão cuidadosas como A Janela Secreta (2004) estrelado por Johny Depp. O filme não pretende mergulhar no processo criativo do personagem, apenas revelar aos poucos os segredos daquela casa. Pena que os segredos não são tão segredos assim. Mal o personagem de Daniel Craig descobre que um homem aparentemente enlouqueceu naquela casa e assassinou a esposa e as filhas, a abordagem pouco sutil de Sheridan já mostra logo o rumo que as coisas vão tomar. Da cara que os vizinhos fazem ao ver Daniel Craig à revelação que acontece na metade da projeção, a impressão é que não houve suspense nenhum até ali. Mas quando você pensa que o roteiro terá uma guinada e tudo se tornará mais interessante numa abordagem inusitada de casa mal assombrada (que lembra muito o do infinitamente melhor resolvido Os Outros/2000 de Alejandro Amenábar), o filme começa a despencar em suas já poucas qualidades. Tudo perde a intensidade e resulta num monte de reviravoltas sem graça e que não sabe aproveitar as ideias que vão surgindo pelo meio do caminho. Tem coisa mais mal resolvida do que a vizinha vivida por Naomi Watts? Nunca fica muito claro o seu papel na trama e quando descobrimos a relação que ela tem com toda aquela tragédia a coisa fica cada vez mais ridícula. Pior que isso foi aguentar a cara de morta viva de Weisz quando o filme chega ao seu último ato. Tenho a impressão que o trio de bons atores foram seduzidos pela assinatura de Sheridan que nos últimos anos tem perdido a mão vergonhosamente. Se muitos torceram o nariz para o seu remake de Entre Irmãos (2009) depois do já preocupante filme do 50 Cent (Fique Rico ou Morra Tentando/2005) a coisa alcança um outro patamar de ruindade em sua carreira depois desse desastre. Nem parece que Sheridan assinou filmes clássicos com Daniel Day Lewis como Meu Pé Esquerdo (1989) e Em nome do Pai (1993), isso sem falar no pessoal Terra dos Sonhos (2002) seu último momento respeitável como cineasta. Curioso é que a estrutura dos personagens de A Casa dos Sonhos lembra muito este singelo filme que concorreu ao Oscar de roteiro original em 2003, afinal trata-se de um casal com duas filhas pequenas às voltas com uma nova perspectiva de vida ao lidarem com morte, mas o resultado é totalmente desengonçado. Pelo menos o filme serviu para Rachel Weisz engatar um romance com Daniel Craig (coitado de Darren Aronofsky que perdeu sua musa nessa história toda, ele deve ser o que mais odiou esse filme). O filme foi um fracasso nos cinemas - o que não surpreendeu ninguém.
A Casa dos Sonhos (Dream House/EUA-2011) de Jim Sheridan com Daniel Craig, Naomi Watts e Rachel Weisz. ☻
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