Zero: "Eu sou você amanhã"!
Quando disse a uma amiga que vi um filme com Selton Mello e outro com Wagner Moura no mesmo dia, ela demonstrou interesse por eles, mas não deixou de mencionar que acha o cinema nacional muito cansativo. Não por conta das temáticas que explora, mas por sempre contar com o mesmo grupo de atores (some Lázaro Ramos, Rodrigo Santoro e Cauã Raymond à lista e você terá uma ideia do que ela está falando). O cinema brasileiro realmente tem seus astros, mas é um número pequeno em comparado ao de outros países. Na busca desenfreada por chamar atenção do público acaba cedendo espaço para aqueles bons atores que conseguem dar conta da trama e do interesse da grande mídia. Não vejo grandes problemas nessa situação, mas o fato é que O Homem do Futuro é mais um longa metragem em que Wagner Moura prova por que é tão requisitado, claro que, historicamente ele será sempre lembrado como o famigerado Capitão Nascimento, mas não será por não dar conta de tipos variados. Só nesta nova obra de Cláudio Torres ele encarna o mesmo personagem sob três perspectivas diferentes, muitas vezes na mesma cena. Uma ideia dessas só poderia sair da cabeça do filho de Fernanda Montenegro e seu apego aos episódios de Além da Imaginação (e a única vez que se distanciou disso foi para filmar o horroroso A Mulher do Meu Amigo/2008 com Marcos Palmeira e Mariana Ximenez), desde que estreou na direção com o episódio Diabólica do primeiro longa da Conspiração Filmes (Traição/1999), Cláudio demonstra uma assinatura própria na criação de suas histórias, gosta de reciclar ideias clássicas (seja uma Mulher Invisível/2009, um homem escolhido por Deus para salvar o Brasil em Redentor/2004), o problema é o exagero a que sucumbe em algumas cenas. Desta vez ele recicla a ideia da viagem no tempo para salvar o personagem de um destino decepcionante. Assim como em seus irmãos, o filme consegue inserir efeitos especiais sem perder - e desta vez, os efeitos são realmente caprichados. João, mais conhecido como Zero (Wagner) é um cientista genial e infeliz com a vida, vive lembrando da namorada dos tempos de faculdade e o dia em que ela o humilhou. Ele não esquece o fato nem quando serve de cobaia para uma máquina capaz de gerar uma nova forma de energia, um conversor de partículas, Zero assume o risco e acaba descobrindo que os cálculos de sua amiga de faculdade Sandra, rica e ambiciosa (a sempre ótima Maria Luisa Mendonça, que era a melhor coisa de A Mulher do Meu Amigo) não criaram um gerador de energia, mas uma máquina do tempo. Zero acaba voltando para o único dia em que namorou Helena (Alinne Moraes), uma das garotas mais cobiçadas da faculdade de Física. Claro que ela possuia um namorado com pinta de vilão (Gabriel Braga Nunes) que estava disposto a atrapalhar tudo e a intenção do Zero mais velho é impedir que isso aconteça. Além de ajudar os pombinhos a ficarem juntos, ele ainda dá dicas de investimentos para seu eu passado para que enriquecer ao lado do amigo de (quase) sempre Otávio (Fernando Ceylão). O problema é que o futuro é alterado, mas não da forma como Zero esperava e... está na hora de consertar as coisas novamente. As idas e vindas temporais garantem bons momentos no filme, criando situações engraçadas num clima divertido durante a sessão. Torres ainda tempera a narrativa com boas doses de nostalgia, como as apresentações da festa universitária, a trilha sonora com clássicos do INXS, Radiohead e destaque para Tempo Perdido da Legião Urbana. Apesar de alguns momentos artificiais (desculpem, mas Alinne Moraes não me convence, ela interpreta cenas e não uma personagem) e caricaturais (o jovem Zero é quase sempre um bobão) o filme é diversão garantida e despretensiosa. (Delírio filosófico: é engraçado como o apelido Zero é de início dado a um sujeito que se julga um nada sem valor e passa a significar alguém que busca um ponto de reinício, um marco zero antes da contagem de sua nova vida... OOOOH!).
O Homem do Futuro (Brasil/2011) de Cláudio Torres com Wagner Moura, Alinne Moraes, Maria Luisa Mendonça e Gabriel Braga Nunes. ☻☻☻
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