Paltrow: elogios como a paciente zero de Contágio.
Steven Soderbergh estava precisando de um sucesso. Sua carreira parecia ir para a geladeira mais uma vez depois de seus experimentalismos não terem agradado muito o público e a crítica. O auge de sua pretensão foi o filme de quatro horas de duração de Che Guevara (em 2008) que poderia ter metade disso que já estaria de bom tamanho. Mas Soderbergh ainda tem prestígio entre a classe artística (todo mundo lembra que foi ele que oscarizou Julia Roberts por Erin Brokovich em 2001, mesmo ano que ganhou o Oscar de direção por Traffic), para Contágio ele escalou atores ganhadores do Oscar como Kate Winslet, Matt Damon, Gwyneth Paltrow e Marion Cotillard, além de outros indicados como John Hawkes, Elliot Gould, Jude Law e Lawrence Fishburne - e outros que ainda não tiveram o seu devido reconhecimento como Jennifer Ehle. Vendo o filme me pergunto se não é exagerar apostar as fichas em mais um filme de epidemia para fazer sucesso. Mesmo apostando num verniz mais politizado, já vimos filmes desse tipo mais de uma dezena de vezes - caos, ruas desertas, o desespero, a selvageria, o isolamento, lágrimas, despedidas e caridades. O filme mostra o estrago feito por um vírus desconhecido que possui origem na contaminação de um porco por um morcego. É a genética desses dois seres que auxiliam na genética desse ser vivo invisível aos olhos, mas letal. "Em algum lugar o morcego errado encontrou o porco errado" diz a personagem de Jennifer Ehle enquanto corre contra o tempo para encontrar uma cura. Além disso, Soderbergh conta a história de uma dezena de personagens que possuem suas vidas transformadas pela epidemia. Matt Damon é o pai de família que tenta lidar com a morte da esposa (Gwyneth Paltrow, que alguns achavam até que concorreria ao Oscar, um exagero) e do filho. Sendo assim, concentrará seus esforços para preservar filha do primeiro casamento. No meio de tudo isso ele descobre que tem imunidade contra o vírus. Ele é o sujeito comum da trama, que vê o caos que o mundo se torna em meio aos saques e barbárie que se espalha conforme o vírus contabiliza milhões de mortos. Kate Winslet tem como função combater a a contaminação, Marion Cotillard é a epidemiologista da Organização Mundial de Saúde que vai para Hong Kong atrás das pistas sobre as primeiras vítimas da doença enquanto Jude Law é um jornalista idealista (e chato) que tem milhões de seguidores em seu blog - e que se ficasse calado ajudaria muito mais. Soderbergh começa muito bem fazendo o horror de quem tem transtorno obsessivo compulsivo por lavar as mãos (uma vez que dedica essa introdução da história à forma como o vírus se propaga através do toque em superfícies e objetos contaminados). O diretor peca quando demora a inserir a intervenção governamental efetiva contra a epidemia - o que, da forma como é mostrada, é impossível de acontecer na vida real (nem as desculpas do exagero feito com o H1N1 e evitar o pânico funcionam no roteiro). Quando ela começa existir, o filme vira outra coisa, se concentrando nas saídas individuais para a situação - nessa parte que o filme demonstra seus tons mais originais (mas nem tanto) - explorando o jogo de poder e relações que existem na indústria farmacêutica e agências governamentais, mas acaba se enrolando na própria corda ao perder tempo apontando o dedo para quem é bom ou mal quando no centro do picadeiro está um personagem tão contraditório quanto o blogueiro sensacionalista vivido por Jude Law. Acho que Law é o elo mais fraco do elenco, nunca sai da caricatura, compondo um personagem cheio de tiques e com um dente torto - que deve fazer parte do seu kit EI! EU NÃO SOU UM ROSTO BONITO! Sinceramente, ele não deveria mais se preocupar com isso, o tempo já lhe tirou a estampa de galã e o tornou um ator peguiçoso. Apesar do elenco cheio de estrelas - e reservar algumas cenas importantes para eles - o diretor perde alguns pelo meio do caminho (que final é aquele da personagem de Marion? E Elliot Gould desaparece!), isso mantém como surpresa do elenco a pouco conhecida Jennifer Ehle (uma atriz da qual gosto muito desde que a vi em Sunshine/1999 de István Szabó) como a cientista que pesquisa a vacina da doença. Ela que guia nosso maior interesse por um roteiro extremamente informativo que usa pouco o elenco valioso que possui - talvez por isso, mesmo com o marketing vigoroso (e o lançamento no fatídico 11 de setembro, dez anos depois da catástrofe), o sucesso do filme foi modesto.
Contágio (Contagion/2011-EUA) de Steven Soderbergh com Matt Damon, Lawrence Fishburne, Kate Winslet, Jude Law, Jennifer Ehle, Marion Cotillard, Gwyneth Paltrow e John Hawkes. ☻☻☻
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