Wasikoska para Fassbender: "Fui elogiada por Meryl Streep"!!
Lembro que quando li o romance Jane Eyre de Charlotte Brontë na faculdade. O livro tinha acabado de receber uma versão cinematográfica dirigida por Franco Zeffireli em 1997 - estrelada por Charlote Gainsbourg e Anna Paquin se revesando no papel principal em fases distintas. O filme foi considerado sem graça pela maioria da crítica especializada, passando em branco nas bilheterias e premiações. Antes o livro já servira de inspiração para outras produções como a aclamada versão cinematográfica em 1944 e várias outras para TV (1970, 1983, 1997 e 2006). Ano passado o diretor Cary Fukunaga arriscou fazer outra versão (que concorreu ao Oscar de figurino no último Oscar). Eu não vi todas as outras, mas posso dizer que o longa tem uma quantidade considerável de méritos - e estes não se restringem ao elenco vistoso ou ao cuidado com o visual de época. O livro lançado em 1847 coleciona várias gerações de fãs com sua trama liderada por uma heroína romântica diferente. Jane não é a moça bonitinha, alegre e suspirante que se vê com frequência nesse tipo de história. Sempre apresentada como feia, a personagem ainda é cheia de dramas pessoais - ela é uma órfã criada pela tia, que não demora muito para colocá-la num internato cheio de métodos educacionais baseados em tortura física e psicológica. Depois de crescida, Jane arranja um emprego num castelo sombrio, onde serve de governanta e tutora para uma menina protegida pelo proprietário do lugar - o sisudo Sr. Rochester. Apesar de suas histórias tristes, Jane não se faz de coitadinha, pelo contrário, tem diálogos muito articulados que impressionam seu patrão mal-humorado - e percebemos que o embate entre os dois disfarça sentimentos que cresce gradativamente com o respeito que brota entre ambos. Os dois são personagens fortes e que se complementam na narrativa - que flerta em alguns momentos com elementos sobrenaturais, mas que logo são explicados de forma realista ao descobrirmos o terrível segredo do passado dele. Fukunaga tem mão firme na direção e é bastante fiel à trama, o que lhe dá segurança para embaralhar os tempos da personagem - começa da terceira parte da narrativa (quando se refugia num local afastado servindo de professora para um vilarejo e conhece o jovem St. John vivido por Jamie Bell), retornando ao período em que era governanta do castelo de Rochester (Michael Fassbender) e à infância infeliz. O roteiro é esperto o suficiente para não ficar colocando os dedos nas feridas de Eyre, deixando que a atuação de Mia Wasikowska dê conta dessa parte. Devo ressaltar que a menina merece elogios por sua atuação, fiquei até surpreso com a intensidade de sua performance (acho que fiquei tão decepcionado com a sua cara amuada como a insossa Alice/2010 de Tim Burton que a coisa sobrou até para seu papel de filha em Minhas Mães e meu Pai/2010. Eu achava que ela pensava que atuar era só fazer cara de enjoo diante da câmera - algo que deve ter aprendido na escola de interpretação de Sean Penn em seus maus dias). Sua atuação foi até elogiada por Meryl Streep no Globo de Ouro, que estranhou sua ausência entre as concorrentes deste ano. Realmente, os olhos tristes de Mia caem como uma luva para revelar o interior da personagem - ao mesmo tempo, suas expressões estão na medida exata quando o texto lhe pede mais emoção. O maior mérito de sua performance é saber contrastar a sua imagem frágil com uma segurança que é própria da personagem. Com mais pé no chão do que vemos nesse tipo de personagem, ela dá conta do ideal de Brontë ao criar Jane Eyre (servir de contraponto para as heroínas de Jane Austen que eram limitadas pelas convenções sociais de sua época), demonstrar que as mulheres também podiam ser fortes, trabalhar fora e que o casamento era apenas uma opção. Espécie de conto de fadas realista, o filme funciona muito bem e o elenco ajuda bastante com a química muito especial entre Mia, Bell (competente num papel mais maduro do que costuma aparecer), Judy Dench (tem bons momentos como a empregada mais próxima de Jane) e Michael Fassbender (que dispensa comentários, 2011 foi definitivamente o ano dele). Claro que os fãs mais xiitas do livro vão achar algo meio apressado no affair entre Jane e seu patrão, mas isso é completamente compreensível dentro do tempo de duração de um filme. Mesmo com todos os predicados filme saiu por aqui direto em DVD.
Jane Eyre (EUA-Reino Unido/2011) de Cary Fukunaga com Mia Wasikoska, Michael Fassbender, Jamie Bell, Sally Hawkins e Judy Dench. ☻☻☻☻
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