Cruise: contemplando a destruição.
Oblivion é o filme de Tom Cruise do qual mais gostei desde que ele deixou de ser o ator de ouro de Hollywood. Depois de muitos tropeços, o ator encontra aqui um veículo sóbrio para uma carreira que andava claudicante. O filme pode não querer revolucionar ou reinventar a ficção científica, mas seus méritos ficam bastante evidentes no resultado alcançado pelo diretor Joseph Kosinski. Teve gente que criticou o filme pelo seu ritmo mais lento que o comum, a forma como as reviravoltas se apresentam e como os diálogos são simplistas, mas o que dá força ao filme é a união de seu tom apocalíptico e outros elementos que remetem diretamente a outros aspectos bíblicos. Existe algo de "Adão e Eva futurista" na relação do mecânico Jack Harper e sua auxíliar Victoria (Andrea Riseborough), afinal, o casal vive acima dos escombros de um planeta destruído (por uma guerra de humanos contra alienígenas) e devem prestar contas do que fazem a um superior (vivido por Melissa Leo). Como a Terra ficou devastada com a explosão de ogivas nucleares, os humanos fugiram para colonizar Titã, a lua mais famosa de Saturno, no entanto, precisam transformar em energia os recursos naturais que sobraram em nosso planeta. Jack e Victoria são os responsáveis por realizarem essa drenagem de recursos. Vivem numa espécie de casamento bastante formal para suprir suas necessidade afetivas e sexuais - especialmente porque ela aceita as regras estabelecidas para o trabalho, enquanto ele é um saudosista dos tempos em que a Terra ainda era habitada. Entre a manutenção dos drones (robôs esféricos responsáveis por exterminar os grupos inimigos que sobreviveram às explosões nucleares) e os sonhos com uma mulher misteriosa, Jack viverá algumas experiências que colocaram suas certezas à prova depois de ver cápsulas misteriosas chegarem à Terra - uma delas carrega a mulher vista em seus sonhos (Olga Kurylenko). Mais do que abalar a percepção que Harper tem do mundo, a presença dela irá abalar a relação que possui com Victoria. Apesar das sucessivas reviravoltas que o roteiro reserva, essa adaptação da HQ, escrita pelo próprio diretor Kosinski, recebe um trato que evita que tudo caia no ridículo - especialmente no final onde Harper enfrenta o seu deus com olho triangular vermelho. Misturando clássicos da ficção científica como Planeta dos Macacos (1968) e Blade Runner (1982) com outra pérola recente do gênero, o ótimo Lunar (2009) de Duncan Jones, o diretor consegue alcançar um estilo próprio para contar sua história. Apesar do roteiro puxar a brasa para o lado de Kurylenko, é Andrea Riseborough que prova ser a parceira de cena mais interessante de Cruise. Ela cai como uma luva na ambientação insípida do casal numa espécie de Éden pós-apocalíptico. São as nuances impressas em seus olhos que dão pleno diferencial ao trabalho dessa atriz, a qual, você ainda ouvirá muito falar. Oblivion pode não se tornar um clássico do gênero, mas chegou bem perto disso. A satisfação de Cruise com o resultado final é evidente. Tornando-se um dos poucos sucessos do último verão americano, Cruise já prepara outro sci-fi: "All You Need is Kill" com direção de Doug Liman.
Oblivion (EUA-2013) de Joseph Kosinski com Tom Cruise, Andrea Riseborough, Olga Kurylenko, Morgan Freeman e Melissa Leo. ☻☻☻☻
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