Dawid e Agata: foco nas entrelinhas.
Ida é o tipo de filme que os votantes do Oscar adoram premiar. Retoma o tema do holocausto (ainda que sob um prisma diferente, tão diferente que cada um poderá ter sua própria leitura da história da freira judia que vai atrás de suas origens), possui uma linguagem clássica sem modernices, bela fotografia em preto e branco, ou seja, é um bom filme, mas que se fosse americano jamais seria premiado como melhor filme - por ser considerado difícil demais. Premiado com a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro, o filme polonês mostra a jornada de uma noviça (a estreante Agata Trzebuchowska) que na década de 1960 é informada sobre a existência de uma parente viva, sua tia, Wanda (Agata Kulesza). Desde o início a moça não fica muito animada a ter que sair do convento e descobrir a história de sua vida, mas acaba conhecendo a tal tia. Assim, a noviça descobre que nasceu durante a Segunda Guerra Mundial, foi registrada com o nome de Ida e foi entregue a um padre para criá-la. Em sua jornada, percebemos mais interesse de Wanda sobre a história dos parentes do que da própria Ida e isso não acontece por acaso. Repleto de camadas e intenções, o filme deixa o melhor de seu texto nas entrelinhas. São nelas que percebemos o quanto o desconhecimento e a vida reclusa no convento podem ser protetoras para alguém, ao contrário de Wanda que aos poucos começa a ter que enfrentar seus próprios fantasmas, gerando cada vez mais angústias na convivência com a sobrinha. O diretor Pawel Polikowski constrói duas personagens que funcionam num grande contraste, a tia que começa a beber e fumar cada vez mais conforme de aproxima da verdade, mantendo relações sexuais com desconhecidos sem muito critério enquanto Ida consegue, no máximo flertar com um charmoso saxofonista que conhece na viagem (o bom Dawid Ogrodnik). Embora trate suas revelações de forma precisa, nos seus momentos finais o filme perde a chance de surpreender o espectador e rende-se a uma série de situações que soam um tanto óbvias. Senti que a última cena de Ida (que revela o quanto existem lugares mais seguros do que o mundo real - com suas emoções nem sempre controláveis) e , principalmente, a despedida de Wanda uma certa necessidade de terminar num campo seguro de sua narrativa. O resultado é que o desfecho perde a chance de ser tão emocionante quanto algumas cenas desse road movie pós-guerra que cita o cinema de Ingmar Bergman em vários planos e na relação de duas mulheres interessantes. No entanto, as belas intenções de Polikowski não alcançam a intensidade esperada dentro de uma rigidez que, por vezes, atrapalha.
Ida (Polônia/2013) de Pawel Polikowski com Agata Trzebuchowska, Agata Kulesza e Dawid Ogrodnik. ☻☻☻
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