Juliano, Salgado e Wenders: o mundo pelas lentes do fotógrafo.
O Sal da Terra é um documentário produzido em parceria entre a França, o Brasil e a Itália, sendo dirigido pelo alemão Win Wenders. Wenders já foi considerado um dos maiores cineastas europeus, mas hoje percebemos mais o seu talento quando dedica-se aos documentários. Talvez porque seu cinema de ficção tornou-se um tanto monocórdio (basta ver as críticas ao seu novo filme, "Tudo ficará Bem" estrelado por Juliette Binoche e James Franco), enquanto seus documentários são mais vibrantes e ricos por não se apegar a uma ideia apenas. Foi assim com o cultuado Buena Vista Social Club (1999), a dança em 3D de Pina (2011) e agora com O Sal da Terra (2014), documentário, que assim como os outros dois, concorreu ao Oscar da categoria. O mais curioso é que todos os filmes demonstram o olhar de artistas, de frentes variadas, sobre o mundo e a forma como expressam suas ideias. Depois da música cubana, da dança de Pina Bausch, chegou a vez de Win voltar sua lente para o renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. O diretor já se envolveu com documentários brasileiros quando participou do excepcional Janela da Alma () O cineasta faz um belo filme, auxiliado pelo filho de Sebastião, Juliano Salgado que co-dirige a produção. O filme utiliza as fotos de Sebastião para ilustrar suas narrativas sobre o que gerou os seus livros mais conhecidos, especialmente as emoções que desencadearam. Assim, acompanhamos o início, quando Sebastião (cabeludo e barbudo) era um promissor economista, mas troca a estabilidade de seu trabalho pela paixão da fotografia social. A beleza ímpar das fotografias garante certo deslumbramento enquanto as vivências se tornam cada vez mais árduas. Enquanto acompanhamos suas histórias sobre a feitura dos icônicos Trabalhadores (1996), Serra Pelada (1999), Êxodos (2000) e África (2007) acompanhamos as memórias de Salgado em sua tristeza e desesperança por ver a face mais triste da humanidade. Embora as fotografias captem com precisão a luminosidade que mescla homens e paisagens, dando-lhes uma plasticidade extremamente dramática, Salgado não esconde o quanto a dura realidade captada por suas lentes o deixava cada vez mais melancólico. Apresentando a identidade do fotógrafo, abordando levemente sua relação com a família, sobretudo com a esposa (a pianista Lélia Deluiz), o filme consegue fazer suas emoções transbordarem sobre o espectador (tanto que pouco antes de Salgado relatar o quanto seu trabalho o havia despedaçado, minha mãe desistiu de ver o filme sentindo-se arrasada). Até esse ponto, o filme de Wenders é bastante fiel ao que vemos na obra do artista... o problema é quando o cineasta tenta ser mais otimista. Ao abordar o projeto de reflorestamento da Mata Atlântica, promovido pela família Salgado no Instituto Terra, Wenders não consegue se segurar e exagera ao categorizar o belo Gênesis (2013) como a maior obra-prima de Salgado ao retratar ambientes remotos da Terra. Da mesma forma, soa forçado a "grande" descoberta que se plantar, as árvores voltam a crescer... sério? A obra de Sebastião Salgado não precisa desses truques narrativos para ser comovente ou respeitável, ela fala por si só e, por isso mesmo, O Sal da Terra é melhor quando ouvimos a voz de Sebastião descrevendo seu olhar sobre o mundo retratado por suas lentes.
O Sal da Terra (The Salt of the Earth/França-Brasil-Itália/2014) de Win Wenders, com Sebastião Salgado, Lélia Deluiz, Juliano Salgado e Win Wenders. ☻☻☻☻
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