Raiva, Nojinho, Alegria, Medo e Tristeza: zelando pela mente de uma menina.
Fazia tempo que a Pixar parecia preguiçosa em suas produções sobre Carros/2006, Aviões/2013 e nem Valente/2012 chegou a ser empolgante como o que o estúdio era capaz de fazer nos velhos tempos. Portanto, fica ainda mais saboroso saber que com Divertida Mente, a criatividade da produtora parece ter voltado aos eixos. A trama ambientada na mente de uma menina é de uma sensibilidade ímpar. Cada diálogo e detalhe do que acontece dentro de sua mente (com as emoções no comando) tem uma razão de ser e transforma a produção quase numa sessão de terapia - sem que nos demos conta do quanto mexe com nossas próprias memórias e lembranças. Não é por acaso que a menina Riley atravessa seus maiores conflitos aos onze anos, pode ser por seus pais terem se mudado para São Francisco, com problemas na entrega dos móveis e tudo mais, mas agrava muito o fato de Riley estar prestes a entrar na adolescência e o que vemos é uma confusão emocional elaborada, que dá gosto pela forma lúdica como é apresentada. Em sua mente, Alegria (voz de Amy Poehler) lidera o grupo formado ainda por Tristeza, Nojinho, Raiva e Medo. É interessante como cada um deles tem um papel importante no desenvolvimento de Riley, seja ajudando a menina a lidar com os fatos do cotidiano, cuidando de suas memórias, construindo sua identidade... mas não deixa de ser interessante como a Alegria da infância começa a perceber que o crescimento faz as outras emoções estarem cada vez mais presentes (portanto, fique atento ao número de esferas que deixam de ser amarelas para alternar cada vez mais as outras cores dos personagens). Embora Alegria seja apresentada como a grande heroína da história, aos poucos percebemos que todos os personagens/emoções são muito importantes para o crescimento de Riley, sobretudo a Tristeza, sempre sufocada e silenciada, mas que a ausência prejudica cada vez mais o desenvolvimento da menina, que torna-se cada vez mais introspectiva, dificultando o diálogo com os pais e os passos seguintes para o desenvolvimento de sua identidade. Existem tantos elementos geniais em Divertida Mente que enumerá-los é diminuir o prazer de descobrir como o roteiro prepara a estrutura da mente de Riley com memórias, subconsciente, trem do pensamento, ilhas de identidade, amigo imaginário (o fofo Bing Bong e seu foguete movido à música), esquecimento, pensamento abstrato... tudo se encaixa com perfeição numa engrenagem interessantíssima que nos faz perceber o quanto as emoções, por mais desagradáveis que sejam, são fundamentais para que possamos aprender a lidar com elas. É assim que crescemos - especialmente quando o botão da puberdade fica por perto. Pete Docter (de Monstros S.A./2001 e Up/2009) e Ronnie Del Carmen constroem um dos melhores filmes do ano, sem medo de inovar e explorar o que muitos considerariam complicado demais. No fim das contas, considerar que o filme trata da necessidade de ser alegre o tempo todo seria um grande erro, afinal, trata da capacidade de amadurecer e lidar tão bem com suas emoções mais sombrias quanto lida com a felicidade. Sem dúvida, um dos melhores filmes do ano - o que redime a Pixar de todos os seus tropeços, sejam eles passados ou futuros.
Divertida Mente (Inside Out/EUA-2015) de Pete Docter e Ronnie Del Carmen com vozes de Amy Poehler, Phyllis Smith, Bill Hader, Diane Lane e Richard Kind. ☻☻☻☻☻
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