Mia, Tom, Jess e Charlie: bebendo na fonte gótica.
Ao terminar a sessão, um rapaz que estava por perto - e esclareceu aos seus amigos que era um filme de Guillermo Del Toro - decretou "Fraquinho". Muita gente que considera conhecer o cineasta por Círculo de Fogo/2013 (que meu organismo considera uma espécie de sonífero... já tentei assistir umas cinco vezes e sempre durmo) realmente irá considerar o filme ruim. Mas quem conhece um pouco mais da carreira do diretor, sobretudo seu irmão direto A Espinha do Diabo/2001, irá perceber que o filme é muito mais coerente com o universo do diretor. Com inspiração na literatura gótica, o filme conta a história de uma mocinha chamada Edith (Mia Wasikowska), que desde pequena é assombrada pelo fantasma da mãe (que sempre lhe avisa sobre algo referente à uma tal Colina Escarlate). Crescida, Edith quer ser escritora, mas encontra dificuldades pelo seu gosto por histórias da fantasmas. Enquanto aspira ser escritora, conhece o baronete Thomas Sharpe (Tom Hiddleston), pelo qual sente uma atração quase instantânea - maior do que a demonstrada pelo médico Alan McMichael (Charlie Hunnam), seu amigo de longa data. O pai de Edith não gosta nem um pouco da presença de Thomas (e tão pouco dos seus planos de extração de argila na propriedade da família Sharpe na Inglaterra), o coroa também não simpatiza muito com a irmã do baronete, Lucille Sharpe (Jessica Chastain), mas isso não evitará que após uma tragédia familiar, Edith se case com Thomas e vá viver com ele na sombria propriedade dos irmãos: um castelo, caindo aos pedaços e que guarda segredos que irão assombrar a nova moradora. Quem ficar atento, irá perceber que Guillermo investe num texto cheio de tiradas metalinguísticas (especialmente no início), basta ouvir Thomas dizendo gostar dos dois capítulos mais românticos do livro de Edith antes que os fantasmas apareçam, ou como ele se identifica com a complexidade do herói romântico da obra. Para além do discurso meta, A Colina Escarlate ainda apresenta uma nobreza decadente, que não encontra espaço num novo modelo sócio-econômico e político. Quem não soube se adaptar, apenas dilapidou toda a fortuna, como o Barão Sharpe - que deixou os filhos à míngua enquanto atormentava a esposa. São esses segredos do passado que fazem a graça do filme e (conforme dizem várias vezes durante a projeção), é ele que os fantasmas representam. Os tormentos de Lucille e Thomas para reconquistar um lugar no mundo a qualquer preço é o motor da história enquanto a casa em pedaços afunda conforme Thomas revira a argila vermelha da propriedade. Entre borboletas, mariposas e espectros vermelhos, A Colina Escarlate mantem a elegância e entrega uma das melhores megeras que esse tipo de filme já exibiu. Jessica Chastain compõe uma Lucille espetacular e parece se divertir muito durante todo o filme, sua atuação é tão cheio de nuances que os outros atores ficam um ponto abaixo de seu magnetismo contido até a hora que precisa crescer ainda mais em cena. No fundo, Lucille parece ser o maior fantasma do filme, mas há de se destacar que Guillermo fez um belíssimo trabalho ao batalhar a construção de uma casa arruinada de verdade (que mesmo em suas partes inteiras, parece estar pela metade), que ao lado dos figurinos exuberantes (ainda que estranhos) confere uma plasticidade única ao filme. Existem sustos e fantasmas no filme, mas são esses detalhes de um mundo que estava em transição que fazem a diferença. Quem prestar atenção nisso perceberá que o filme está longe de ser fraquinho. É verdade que faltou algum toque especial que o fizesse ser uma obra-prima como O Labirinto do Fauno (2006), mas isso já seria pedir demais, afinal, antes de ver as belíssimas imagens que ilustram os créditos finais eu já estava satisfeito com o resultado.
A Colina Escarlate (Crimson Peak/ EUA-2015) de Guillermo Del Toro com mia Wasikowska, Tom Hiddleston, Jessica Chastain, Charlie Hunnan e Jim Beaver. ☻☻☻☻
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