Ramsés e Moisés: tensão entre dois irmãos.
É preciso ter coragem para filmar a mesma história de um dos maiores clássicos do cinema. Pois Ridley Scott resolveu provar que é realmente corajoso para pegar a história do clássico Os Dez Mandamentos (1956) e fazer um outro filme. Acredito que ele sabia que mesmo com todos os recursos tecnológicos disponíveis hoje em dia, seu filme tinha mais chances de receber críticas mais severas na comparação com a obra de Cecil B. DeMille. O filme conta a história de Moisés (o galês Christian Bale) que começa a descobrir suas origens enquanto cresce os embates com o faraó Ramsés (o australiano Joel Edgerton) e percebe que tem uma missão divina pela frente. Os dois foram criados juntos, mas quando Moisés descobre que é hebreu, fica cada vez mais incomodado com a escravidão de seu povo. Como a relação entre os dois fica insustentável e Moisés parte para outras terras, casa-se, tem um filho e começa a conversar diretamente com Deus (aqui encarnado por um menino) que o alerta que se Ramsés não rever seus conceitos de seu reinado, coisas muito ruins irão acontecer. A história bíblica é mais do que conhecida, mas os (quatro) roteiristas encontram bastante dificuldade para costurar uma história repleta de elementos fantásticos que deveriam render um grande filme. Estão lá as pragas do Egito, a travessia do mar vermelho, a morte dos primogênitos, os efeitos especiais para ilustrar a fúria divina, mas o que se percebe é um conjunto de ideias costuradas por um roteiro problemático. Primeiro, desde o início enfrentam a dificuldade de construir diálogos que prestem, já que quase todos parecem quebrados, dispensáveis na compreensão da história, ao ponto de mais confundirem do que esclarecerem aspectos da narrativa. Para além disso existe a necessidade do filme ser espetacularmente épico, gerando algumas cenas de ação que ganham mais destaque do que deveriam no decorrer da história (aquela primeira batalha é tão abrupta que o espectador não faz a mínima ideia do motivo dela ocorrer). Nem vou mencionar o fato da crítica ter encrencado com o fato do filme ter em papéis de destaque somente caucasianos, já que todo mundo sabe que Hollywood não existe para bancar um candidato a blockbuster estrelado por estrangeiros egípcios. É verdade que o filme tem algumas ideias interessantes como investir num Moisés mais humano, enfatizar a relação entre ele e Ramsés, procurar justificar as pragas do Egito (em explicações bastante didáticas que nem eram necessárias diante das cenas bem encadeadas) e a travessia do Mar Vermelho. No entanto, o apego à ciência não consegue justificar alguns detalhes bíblicos que o roteiro (sabiamente) nem se atreve a explicar cientificamente. Êxodo - Deuses e Reis não chegou nem perto de alcançar as pretensões de fazer sucesso nas premiações e nas bilheterias, mas não é o desastre que muitos apontaram - mas também está longe de ser inesquecível.
Êxodo - Deuses e Reis (Exodus - Gods and Kings/EUA-2014) de Ridley Scott com Christian Bale, Joel Edgerton, John Turturro, Ben Mendelsohn, Ben Kingsley e Sigourney Weaver. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário