Waterston e Moss: duas amigas lavando a roupa suja no campo.
Os últimos meses foram tão corridos, que eu deixei de escrever sobre os filmes exibidos no Festival do Rio 2015. Por conta disso, resolvi escrever quando chegassem ao circuito comercial, mas como alguns amigos sempre me perguntam sobre o que vi, vou adiantar a postagem deles conforme termino os textos. Um dos que vi foi novo filme de Alex Ross Perry, que dividiu opiniões. A ideia é interessantíssima, mas seu desenvolvimento deixa a sensação que poderia ir mais longe. Sua fonte de inspiração é visivelmente o terror psicológico muito comum na década de 1960 e 1970 no cinema americano. Da fotografia granulada, passando pela fonte dos créditos e a trilha sonora, Rainha da Terra quer parecer propositalmente datado. Essa estética lhe confere certo charme e facilita ao espectador desavisado entrar no clima da obra do diretor que adora temperar suas histórias com toques freudianos. Desde a primeira cena vemos que Catherine (Elisabeth Moss) está enfrentando um momento ruim. Com a maquiagem borrada, ela reage de forma descontrolada ao fim do seu relacionamento amoroso com James (Kentucker Audley). Para piorar, ela ainda não digeriu muito bem a morte do seu pai, um artista com o qual trabalhou durante anos, ou seja, Catherine, precisa encarar sua vida sozinha pela primeira vez. Nessa jornada pessoal complicada, ela conta com a amiga de longa data Virginia (Katherine Waterston) que a convida para uma espécie de retiro numa casa de campo. Além da depressão de Catherine, existe uma certa tensão entre as duas, que torna os diálogos cortantes quando alguns ressentimentos vem à tona, ajuda nos desentendimentos entre as duas a presença de Rich (Patrick Fugit), namorado de Virginia com o qual não se entende muito bem. Alex Ross Perry opta por deixar tudo meio no ar, sem esmiuçar explicações ao espectador, que aos poucos percebe as qualidades e defeitos dos seus personagens e o que da personalidade de um, incomoda no outro (mas eu teria dispensado as cenas de flashback que ressaltam como Catherine era dependente dos seus relacionamentos e enfatizado mais o retrato de uma amizade que anda em descompasso). Elisabeth Moss realiza um bom trabalho na desconstrução de uma personagem que torna-se cada vez mais estranha, mas o roteiro poderia ter ajudado lhe oferecendo mais cenas como a da festa, do passeio de barco ou da discussão com Rich (que só reforçam que o diretor/roteirista tinha uma ótima ideia em mãos, mas que não sabia muito bem o que fazer com ela). Katherine Waterston, que chamou atenção ano passado em Vício Inerente/2014, tem participação discreta mas interessante como a melhor amiga desencanada da protagonista. Rainha da Terra poderia ser ter se tornado um grande filme se o diretor não tivesse ficado amedrontado com a evolução do seu texto, a dicotomia entre os personagens funciona bem, deixando a trama cheia de possibilidades, mas o diretor apenas exibe suas ideias, não conseguindo concluir suas intenções, sendo assim, o resultado é apenas curioso.
Rainha da Terra (Queen of Earth/EUA-2015) de Alex Ross Perry com Elisabeth Moss, Katherine Waterston e Patrick Fugit. ☻☻☻
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