Nicole: a memória numa câmera.
Aos 48 anos, Nicole Kidman tornou-se o tipo de atriz que está acima dos resultados de bilheteria. Tempos atrás dizia que abandonaria a carreira, já que seus filmes não estavam conseguindo o sucesso esperado. Sorte que algumas sessões de terapia parecem tê-la feito mudar de ideia. Nicole está sempre filmando (mantendo desde o ano passado o ritmo de quatro lançamentos por ano, algo invejável para uma atriz de sua idade - que obviamente não aparenta), geralmente com diretores importantes ou nomes em ascensão do cinema mundial. Assim, não importa se está no novo filme de Werner Herzog (Queen of the Desert que deve estrear nos EUA somente no ano que vem) ou na estreia da cineasta australiana Kim Farrant (em Strangerland, que eu já assisti e depois comento por aqui), Nicole é sempre convidada para projetos de todo o tipo: dramas, comédias, suspenses, épicos... e por isso está sempre trabalhando. Às vezes isso funciona contra ela, como em sua participação em Antes de Dormir, do diretor Rowan Joffe (do ótimo O Pior dos Pecados/2010), que rendeu à atriz uma indicação ao prêmio Framboesa de Ouro de pior atriz - embora sua atuação não seja ruim. O grande problema do filme é que ele começa interessante, cheio de possibilidades e acaba se confundindo sobre si mesmo, revelando uma trama cheia de buracos e conclusões pouco verossímeis. Nicole vive Christine, uma mulher que sofre com uma doença rara: ao acordar, ela esquece tudo o que aconteceu no dia anterior. Christine não tem passado, contando apenas com o esposo atencioso, Mike (Colin Firth) para saber o que está acontecendo. A coisa já fica complicada quando entra em cena seu terapeuta, Dr. Nasch (Mark Strong), que acompanha o caso de Christine e sempre pede para que antes de dormir ela filme com uma câmera digital informações que podem ser úteis no dia seguinte. Eis que quando ela pega a tal câmera pela primeira vez, sua filmagem faz com que Mike não seja mais tão confiável. O roteiro passa então a criar e destruir nossa confiança nos personagens, (inclusive na própria Christine). A ideia funciona no início (como se fosse um primo bem menos genial de Amnésia/2000), mas começa a cansar com a fragilidade do roteiro em criar inúmeras reviravoltas, descambando para o ridículo quando descobrimos que toda angústia de Christine poderia ter sido poupada se houvesse o mínimo de coerência na infeliz instituição em que foi internada... mas é melhor eu parar por aqui. Até o final é impossível não ter pena de Christine e de todas as pessoas sem noção que cruzaram o seu caminho (incluindo os que ela mais amava), mas aí a sensação do suspense que aguou no melodrama beira a irritação. Talvez por isso, o Framboesa descontou em Nicole toda a raiva que sentiram o filme ou... queriam dizer para ela ficar mais atenta aos roteiros que recebe.
Antes de Dormir (Before I Go To Sleep/Reino Unido - França - EUA - Suécia - 2013) de Rowan Joffé com Nicole Kidman, Colin Firth e Mark Strong. ☻☻
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