Amy e Bill: os opostos se atraem?
Algumas comediantes americanas me despertam um grande déjà vu quando remetem diretamente à referência que tenho do humor no sentido Dercy Gonçalves da coisa. Há muita gente que realmente acha graça em ver uma mulher de comportamento grosseiro, soltando palavrões, sendo um tanto... descompensada como o título promete. Obviamente que a Dercy que conhecemos era uma personagem, que extrapolava os padrões para fazer rir pelo excesso - e é justamente isso que vemos aqui. O mais engraçado é que décadas depois, o puritano público americano resolveu apreciar um comportamento - geralmente atribuído aos homens - na mulherada e, de vez em quando, elege uma nova musa do gênero. A bola da vez é Amy Schumer, uma loira balzaquiana com cara de menina alemã marrenta que prova cada vez mais ser capaz de fazer um caminhoneiro corar quando abre a boca, mas o humor de Amy valeu duas indicações ao Globo de Ouro para essa comédia dirigida por Judd Apatow (melhor filme de comédia/musical e melhor atriz de comédia). No filme ela interpreta Amy (truque manjado para romper a barreira entre atriz e personagem), uma mulher que bebe mais do que devia, fuma maconha sempre que pode, fala palavrões e trabalha numa revista que cria matérias importantíssimas sobre a influência da ingestão de alho no sabor de um certo fluído masculino ou uma pesquisa sobre as cinco crianças mais feias com menos de seis anos. Eis que numa reunião de pauta ela prova detestar esportes e acaba tendo que fazer uma matéria sobre o médico cirurgião mais procurado pelos atletas. Ele se chama Aaron (Bill Hader), tão responsável e correto quanto dedicado à profissão e causas humanitárias. O tipo de homem que Amy jamais se envolveria (e a lista dos que ela já se envolveu é bem extensa, mesmo namorando o musculoso Steven, vivido por John Cena). Ou seja, Amy não está nem aí... ainda que tenha laços familiares fortes com o pai (que a primeira cena apresenta como se fosse a causa para a dificuldade da personagem lidar com um relacionamento sério) e com a irmã, Kim (Brie Larson) - que é casada e feliz com o esposo e o enteado. O mundo propositalmente desregrado de Amy irá virar de cabeça para baixo quando ela tiver a primeira transa com Aaron e ele mostrar-se um verdadeiro cavalheiro. Nesse ponto, o filme mostra sua intenção de fazer humor do contraste de Amy com Aaron e alguns outros personagens que estão no seu caminho. Da chefe (Tilda Swinton, bem, diferente no papel de megera fashion e se divertindo bastante) ao estagiário (Ezra Miller), todo mundo perde a máscara e Amy começa a pensar no que seria melhor para sua vida. Isso gera um conflito na personagem, bem leve é verdade, mas o suficiente para ela ver que sua vida de mulher adulta precisa de alguns ajustes. Apatow cria mais uma comédia romântica desbocada e grosseira, que faz rir, mas também gera alguns diálogos desnecessários de tão constrangedores. Ou seja, é a típica comédia romântica com o grosseirão que precisa descobrir que está apaixonado, só que no caso, o grosseirão é do sexo feminino. Embora não tenha me convencido como essa superestrela da comédia que todos dizem (como já disse, cresci ouvindo Dercy Gonçalves), Amy está muitíssimo bem acompanhada por Bill Hader (que me surpreendeu posando de galã nada convencional) e Brie Larson - uma jovem atriz que devemos ficar de olho. Apatow, depois de dois filmes que forma mal nas bilheterias, o cineasta voltou a fazer sucesso e prova, mais uma vez, ser um especilista nesse tipo de comédia romântica para o público masculino (afinal, é a mocinha que deve pedir desculpas no final).
Descompensada (Trainwreck/EUA-2015) de Judd Apatow com Amy Schumer, Bill Hader, Brie Larson, Tilda Swinton, Ezra Miller e Randall Park. ☻☻
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