Springfield e Streep: músicas e ressentimentos.
Ainda que não apareça nas premiações de fim de ano em 2015, Meryl Streep foi dona de um esforço colossal em 2015! Afinal, ela é o grande motivo para que você assista Ricki and the Flash - De Volta Para Casa, filme que começou sua carreira assim que a imagem da atriz, com pose de roqueira começou a circular na internet. Meryl esbanja carisma na pele da mulher que deixa a família para trás para ser roqueira, pena que a roteirista Diablo Cody, mais uma vez, não faz ideia do que fazer com a ideia que tem em mãos e empaca a trama num festival de ressentimentos sem fim sobre a personagem - o que nos faz entender todos os motivos dela ter ido para bem longe daquela gente. Talvez com medo de soar moralista ou tendenciosa, Diablo Cody (que tem na estante o Oscar pelo texto de Juno/2007) resolveu não explorar quais os motivos levaram a personagem a deixar de ser Linda e transformar-se em Ricki, ou até mesmo aprofundar a personalidade dos coadjuvantes, que aparecem todos com a mesma função na trama: jogar na cara de Ricki o quanto ficaram infelizes com o fato dela ir embora - mas isso já fica bem claro no desastroso jantar em família. Quando você pensa que o filme dará um passo além, sempre aparece um personagem para voltar ao mesmo ponto, deixando o roteiro travado até o final. Ricki volta para a casa ao saber do divórcio de sua filha, Julie (Mamie Gummer, filha de Streep na vida real), que está depressiva (seguindo a cartilha de Hollywood: não muda de roupa, está sempre mal humorada e com um dos cabelos mais maltratados da história do cinema). Embora o ex-marido lide bem com a visita de Ricki (cortesia de Kevin Kline), os outros dois filhos também estão dispostos a lavar a roupa suja em público com a mamãe. Imagino que não deva ser fácil para três filhos adultos lidarem com a decisão da mãe em largar a família e seguir carreira à frente de uma banda de rock, mas a forma como a situação aparece no filme beira o infantil (a cena de papai e mamãe tomando satisfações com o ex-marido de Julie só demonstra como o casal teria feito estragos ainda maiores à formação dos filhos se tivessem ficado juntos). Streep faz o que pode para defender sua personagem, mas o texto não favorece em nada o desenvolvimento de Ricki, motivo pelo qual o segundo ato se dedica a colocar várias cenas de performance de Ricki and The Flash enquanto ela tenta ajustar sua vida amorosa e exorcizar a visita aos familiares. Quando pensamos que a coisa vai melhorar, o filme volta ao ponto de partida e mostra o quão legal poderia ter sido se Ricki tivesse mais espaço para mostrar que tinha energia suficiente para ser uma rockstar de verdade. O filme tem um bom ponto de partida, mas perde fôlego por não aproveitar todas as possibilidades de ter uma mamãe madura e roqueira com seus próprios conflitos para lidar, do jeito que aparece, Ricki é quase sempre um saco de pancada da família - como se exigissem dela ser algo tão poderoso capaz de ajustar a vida de todos ao seu redor. Por um instante, o roteiro até parece que irá abordar essa questão por um viés feminista, mas dura apenas alguns minutos. Algo me diz que Diablo Cody necessita de um co-roteirista urgentemente.
Ricki And The Flash - De Volta para Casa (Ricki and The Flash / EUA-2015) de Jonathan Demme, com Meryl Streep, Kevin Kline, Mamie Gummer, Rick Springfield, Sebastian Stan e Nick Westrate. ☻☻☻
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