domingo, 27 de dezembro de 2015

PL►Y: Love

Aomy e Karl: A Lei de Murphy do amor. 

Love foi o filme polêmico mais famoso do ano - e começou sua carreira na mostra não competitiva do Festival de Cannes. O motivo: cenas de sexo explícito em 3D. Ainda acho engraçado como em pleno século XXI, com tudo que a internet possui, o sexo ainda ser a ferramente mais usada para polemizar um filme. Lars Von Trier fez isso com Anticristo/2009 e repetiu a dose (com menos brilhantismo) em Ninfomaníaca/2013, Michael Winterbottom teve sua cota de repercussão com 9 Canções/2004 e Catherine Breillat já domina o gênero há tempos em obras como Romance/1999 e Anatomia do Inferno/2004, porém, o público ainda fica em polvorosa quando um filme que se pretende sério utiliza cenas de eróticas em sua narrativa. Nem preciso dizer que os conservadores devem manter distância dessas produções, mas por outro lado, acho interessante os argumentos que alguns diretores usam para defender suas obras. Particularmente não tenho problemas com cenas de sexo explícito, admiro a coragem dos atores em se expor em cenas ousadas de intimidade e penso até até que ponto toda polêmica é o reflexo da consciência do que pensamos ser sexo, arte e cinema. Dito isso, seria redundante dizer que sem as cenas de sexo, Love seria um filme de amor bastante comum? Dirigido pelo inquieto Gaspar Noé (o mesmo do vertiginoso Irreversível/2002), Love é seu filme mais brando. A ideia do diretor é mostrar o amor sob a perspectiva do protagonista Murphy (Karl Glusman), que está casado com Omi (Klara Kristin), com quem tem uma filha, mas que percebe ainda ser apaixonado por Electra (Aomy Muyock) após o saber do desparecimento dela. A partir daí, Murphy questiona seu casamento e remexe nas memórias. Essa é a base do filme, mas para além do trabalho de edição, no uso de luzes (especialmente no contraste do preto e vermelho, as cores favoritas do diretor), não existe uma trama que sustente o filme em suas mais de duas horas de duração, afinal, lá pela metade já descobrimos que o casal colocou tudo a perder por não aguentarem as consequências de viver suas fantasias sexuais. Soa moralista? Pois é: SURPRESAAA! Apesar de adorar polêmicas e provocar vertigens no público, Gaspar Noé é moralista, hardcore, mas moralista (e não está nem aí se você disser isso para ele). Você vai perceber que o cara esconde motivações bem simples (e universais) em seus filmes, afinal, um filme tão "ousado", mostra o fim do romance por algo tão trivial como o ciúme. Noé decora sua história de amor com ópio, orgias, ménages, posições múltiplas e... uma ideia obsessiva de Murphy engravidar Omi. Noé tem a bondade de não encher o filme com aquela filosofice capenga que Trier usou em Ninfomaníaca e prefere utilizar sarcasmos como Lei de Murphy, o "bebê se chamar Gaspar se for menino", a galeria de arte chamada Noé, a relação de Electra com o pai e Murphy dizendo que todo filme deveria ter "sangue, lágrimas e esperma" para logo depois confessar (ironicamente) que seu filme favorito é 2001 de Stanley Kubrick... São brincadeirinhas que dão alguma graça ao filme, mas que não ajudam a manter o interesse em sua longa duração, talvez por isso o elenco (corajoso) se esforce, mas não consiga aprofundar muito os personagens. O problema de Love é o roteiro (talvez a ideia seja comunicar a história mais pelo uso do sexo, mas até elas cansam de vez em quando). Vários aspectos me fez lembrar de Irreversível durante a sessão, das cores utilizadas nas cenas, o efeito corrosivo do tempo sob o amor e, principalmente, a negação de uma segunda chance aos personagens - para Noé, os efeitos das escolhas são eternos, não tem jeito.  No fim da sessão temos a impressão que vimos uma triste história de amor como tantas outras sob a perspectiva das quatro paredes (e do espelho no teto).

Love (França/Bélgica-2015) de Gaspar Noé com Karl Glusman, Aomy Muyock e Klara Kristin. ☻☻

Nenhum comentário:

Postar um comentário