Nicole: produção cheia de percalços.
Escolhido para ser o filme de abertura do Festival de Cannes em 2014, Grace de Mônaco foi apedrejado de todos os lados. A crítica detestou o filme, assim como a família real de Mônaco considerou o filme ofensivo à memória da atriz de Hollywood que deixou o estrelato para se dedicar ao reinado ao lado do Príncipe Rainier III. O diretor Olivier Dahan ainda enfrentou inúmeras discussões com os produtores sobre o corte final das produção, o que comprometeu a distribuição mundial do filme - nos EUA ele foi diretamente para a TV, concorrendo a dois prêmios Emmy (filme para TV e penteados) e um Prêmio no Sindicato de Atores para atuação de Nicole Kidman. Talvez o maior problema do filme seja a sua própria pretensão. É verdade que o roteiro mira em alvos demais para acertar em uma hora e quarenta minutos, o que deixa tudo um tanto superficial. Desde o início o filme deixa claro que trata-se de uma ficção inspirada na vida real (e por isso mesmo, entendo as ressalvas da família de Grace à obra) e tenta contar os conflitos que poderiam ter acontecido quando a atriz americana Grace Kelly (vivida por Nicole Kidman) aceitou casar-se com o herdeiro do principado de Mônaco (uma cidade-estado soberana ao sul da França), Rainier III (Tim Roth). A história se passa em meio à tensão quando o governo francês ameaçou a soberania de Mônaco, o segundo menor estado do mundo (com pouco mais de 2Km² de extensão), que se viu em meio a um embargo econômico. Enquanto isso, Grace recebe o convite de Alfred Hitchcock para estrelar um novo filme, Marnie. Esses dois elementos servem para que Dahan insira a bela Grace Kelly em meio à uma conspiração palaciana que carece um pouco de sentido. Dahan não aprofunda muito os dramas da personagem, apelando para as lágrimas constantes de Nicole até que a personagem perceba que ser a princesa de Mônaco seja o verdadeiro papel de sua vida. Com locações lindíssimas (afinal, Mônaco tem a bela vista do mar Mediterrâneo), fotografia impecável e um elenco competente, Grace de Mônaco tem como maior problema o roteiro fraquinho que poderia se contentar em ser apenas um recorte da vida de um verdadeiro ícone, mas nem isso ele tenta ser - basta ver a atuação de Nicole que está bem em cena, mas nem se preocupa em evocar a verdadeira Grace Kelly. Chega a ser irônico que em meio a tantas intenções o filme pareça tão vazio.
Grace de Mônaco (Grace of Monaco / Suíça, França, Bélgica, Itália, EUA - 2014) de Olivier Dahan com Nicole Kidman, Tim Roth, Frank Langella, Parker Posey, Paz Vega e Milo Ventimiglia. ☻☻
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