Lau e Laia: uma noite de crimes.
O operador de câmera Sturla Brandth GrØvlen ganhou o Urso de Prata no Festival de Berlim de 2015 por sua contribuição artística no filme alemão Victoria de Sebastian Schipper. O prêmio revela muito sobre o filme que causou polêmica quando foi exibido ao contar a história de uma jovem espanhola (a Victoria do título vivida por Laia Costa, quase uma versão morena de Michelle Williams) que encontra três jovens alemães nas ruas de Berlim e se mete em uma série de situações perigosas. Acho que não vale a pena contar o que acontece durante o filme, afinal, ele depende muito das surpresas que surgem pelo caminho, mas acho que posso revelar que eles terão problemas com traficantes e policiais até o dia amanhecer. Poderia ser um filme sobre juventude transviada como tantos outros, mas o diferencial é que Schipper conta tudo em um único take, um único plano sequência, sem cortes. Em entrevistas o diretor disse que foram três tentativas para realizar o filme, sendo escolhida a que o resultado ficou mais interessante. Ele ressalta que também havia um plano B, onde o filme seguiria uma montagem tradicional, mas ele considerou essa versão muito desinteressante, afinal, tirando o trabalho de câmera premiado existe pouco a oferecer além do conceito escolhido pelo diretor. Para se ter ideia a primeira uma hora de sessão consegue ser bastante irrelevante, apenas tem o objetivo de situar o espectador no encontro dos personagens e na proposta de que não haverá cortes até o fim da sessão (algo que poderia ser explorado em quinze minutos). Nessa primeira hora fica visível como os diálogos e gestos são improvisados (o próprio diretor disse que o roteiro era de apenas dezoito páginas e que contou muito com as ideias dos atores para filmar) e apesar do esforço da dupla formada por Laia e Frederick Lau (que vive Sonne, o único personagem masculino bem construído do filme), os personagens carecem de profundidade (talvez o maior problema seja a própria Victoria que é um um tanto desmiolada de se meter em tanta confusão com um bando de desconhecidos. Tédio com a vida? Cansada da mesmice? Vontade de viver uma aventura? Amor à primeira vista? Nenhuma das opções anteriores?). O excesso de improviso compromete o andamento do filme que resulta irregular em suas mais de duas horas de projeção. Talvez se fosse mais curto e conciso ele funcionasse infinitamente melhor, afinal, se em algumas cenas Schipper consegue expressar a tensão dos personagens, nem sempre a direção dos atores flui como deveria - e não estou reclamando das cenas trêmulas, enquadramentos confusos ou dos diálogos que podem provocar risadas involuntárias (a cena em que Victoria tenta explicar para uma refém que eles são pessoas de bem é de rolar de rir). Victoria é um filme que tenta se sustentar sobre uma única ideia, mas por vezes ela se mostra tão traiçoeira quanto os planos dos personagens para aquela fatídica noite.
Victoria (Alemanha/2015) de Sebastian Schipper com Laia Costa, Frederick Lau e Franz Rogowski. ☻☻
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