Hill e Franco: aprendiz de Capote.
Grande aposta da Fox Seachlight para as premiações do final do ano passado, o filme A História Verdadeira sentiu o sabor do fracasso. O curioso é que o filme possui material para gerar uma ótima obra, pena que o diretor estreante Rupert Goold não deu conta de criar um roteiro à altura do livro de Michael Finkel. Finkel era um dos jovens jornalistas mais promissores do New York Times Magazine, mas caiu em desgraça quando mentiu num artigo sobre crianças escravizadas na África. Seu erro foi condensar a história de vários meninos em apenas um para que tornasse a sua história ainda mais impactante. O impacto da descoberta custou sua credibilidade e, por pouco não arruinou sua carreira definitivamente. Tempos depois de perder o emprego, Finkel foi contratado para escrever a história de Christian Longo, um sujeito acusado de matar a esposa e os três filhos pequenos. O motivo da editora ter escolhido Finkel é que após a fuga, o assassino se apresentava com o nome de Michael Finkel em cidades do México. O roteiro é pautado nas conversas que geraram o livro homônimo de que foi lançado em 2010, tornando-se um grande sucesso editorial. O que tornou o livro um sucesso foi a narrativa ambígua, onde nunca se sabe ao certo se o que Longo conta é verdade ou se somos tão seduzidos, como o jornalista, a acreditar em suas palavras. Interpretados por dois amigos na vida real, o Michael (vivido por Jonah Hill) e o Christian (James Franco) possuem boa química quando estão juntos em cena. Hill capricha na seriedade de seu personagem enquanto Franco se esforça em expressões para retratar um sujeito que precisa de credibilidade para provar sua inocência - mas sempre parece manipulador demais para ser inocente. Um dos grandes problemas do filme é que não existe muita dúvida sobre o que aconteceu de fato, mas o roteiro insiste em apostar nela para gerar um suspense que não se constrói plenamente. O maior trunfo deveria ser o jogo que se instala entre os dois personagens - um precisando do outro para que a situação atual de descrédito mude, afinal, enquanto Finkel precisava da história de Longo pra provar que era um jornalista de respeito, Longo precisava dele para saber até que ponto sua versão poderia ser testada diante do júri. Penso que não é fácil construir a anatomia de um personagem como Christian Longo, talvez por isso o desfecho do filme seja meio corrido e um tanto óbvio para a plateia (acho que Goold ficou com medo de ser acusado de simpatizar com um personagem tão controverso). Porém, o maior erro foi imaginar que o melhor do filme era descobrir se o réu era culpado ou inocente, já que o mais interessante é a estranha identificação que existe entre os dois personagens. O livro A História Verdadeira apresenta Michael Finkel como um discípulo aplicado de À Sangue Frio de Truman Capote, já o filme o apresenta como um sujeito ingênuo demais para a profissão que escolheu.
A História Verdeira (The True Story/EUA-2015) de Rupert Goold com Jonah Hill, James Franco, Felicity Jones, Maria Dizzia, Robert John Burke e Ethan Suplee. ☻☻☻
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