Alton: poderes especiais e destino confuso.
Existe uma infinidade de títulos interessantes esperando uma vaga para estrear nas salas brasileiras, alguns já tiveram a estreia adiada várias vezes e a cota de pré-estreias mais do que cumprida. Esse é o caso de Destino Especial de Jeff Nichols, que tinha a estreia prevista para março, mas após dividir opiniões em sua estreia (ocorrida no Festival de Berlim), sua chegada por aqui foi alterada. Ainda que não tenha alcançado unanimidade, o cineasta Jeff Nichols se consolida como um dos nomes mais interessantes na nova safra de diretores americanos. Aos trinta e sete anos, este é o seu quarto filme e, assim como os outros, é digno de atenção. Junto aos outros, Destino Especial causa estranhamento por ser completamente diferente, afinal, Nichols chamou atenção no cinema independente com dramas intimistas - como o excepcional O Abrigo/2011 e o sucesso inesperado Amor Bandido/2012 - e aqui ele entrega uma ficção científica que transpira referência dos anos 1980, especialmente das fantasias dirigidas ou produzidas por Steven Spielberg naqueles tempos. O filme gira em torno do pequeno Alton (Jieden Lieberher que já demonstrou seu talento em Um Santo Vizinho/2014), um menino diferente que foi sequestrado por dois homens (vividos por Michael Shannon e Joel Edgerton) enquanto uma investigação começa a acontecer em sua busca. De um lado estão agências governamentais que descobriram as habilidades especiais do menino, do outro está um grupo religioso que acredita que Alton é uma espécie de salvador. No meio da confusão estão os pais do menino, que desejam apenas o bem dele diante do seu "dom". Nichols capricha nos climas e no uso dos efeitos especiais em momentos pontuais (as cenas em que o menino apresenta seus poderes são impressionantes) sem perder o tom crescente de conspiração. É um filme que se destaca como aventura infanto-juvenil e que se beneficia do mistério que contrói em torno de seu irresistível protagonista mirim. Michael Shannon também chama atenção por mais uma grande atuação (não por acaso é o ator favorito de Nichols, estando presente em quatro dos cinco filmes dirigidos pelo cineasta), aqui, Shannon demonstra total cumplicidade junto ao menino, mesmo quando alguns sacrifícios deverão ser feitos. Ironicamente, são as qualidades apresentadas por Destino Especial que torna o desfecho o seu maior problema, afinal, cria-se uma grande expectativa por todo o filme, mas a conclusão mostra-se tão apressada que torna-se até confusa. Diante do desfecho insatisfatório, destaca-se como alguns alguns atores poderiam ter recebido maior destaque na trama - como o cientista vivido por Adam Driver e a mãe encarnada por uma discreta Kirsten Dunst. Se ao final, o longa não alcança tudo o que promete, pelo menos impressiona pelo resultado alcançado com o orçamento de 18 milhões de dólares (uma ninharia para o gênero). Se depois de passar por Berlim Destino Especial dividiu opiniões, o diretor Jeff Nichols teve melhor sorte no Festival de Cannes desse ano ao apresentar Loving, elogiadíssimo drama romântico sobre um casal inter-racial enfrentou preconceitos na década de 1950 (e que já está cotado para o Oscar do ano que vem).
Destino Especial (Midnight Special/EUA-2016) de Jeff Nichols com Michael Shannon, Joel Edgerton, Jieden Lieberher, Kirsten Dunst, Adam Driver, Bill Camp e Sam Shepard. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário