Harris e Franco: mudança de perspectiva.
Em seu segundo longa metragem a diretora Pamela Romanowsky confirma ter muita afinidade com o ator James Franco, afinal, mais uma vez, os dois demonstram o seu fascínio por escritores. Os dois trabalharam juntos anteriormente na estreia da cineasta (o pouco visto The Collor of Time/2012) que contava a vida do ganhador do Pulitzer CK Williams. Franco já havia demonstrado que consegue dar vida à densidade de escritores renomados em Uivo (2010), onde encarnava o polêmico Allen Ginsberg. Infelizmente, Traumas de Infância promete mais do que cumpre ao levar para as telas a obra mais reveladora de Stephen Elliot, autor americano que ficou famoso por destrinchar suas lembranças infanto-juvenis em livros, especialmente no que diz respeito ao relacionamento tempestuoso com o pai. Embora tenha cenas fortes, o título resulta apenas apelativo já que não existe uma abordagem dos traumas de Elliot, apenas o seu confronto com o passado - encarnado pelo pai. Elliot (vivido por James Franco) já gozava de algum sucesso quando o pai (interpretado por Ed Harris) surgiu e desmentiu várias informações que constava nos livros do filho, inclusive que ele, o pai, estava morto. A repercussão de que Elliot exagerava em seus livros para aumentar a dramaticidade de sua obra caiu feito uma bomba na carreira do rapaz, ao ponto de prejudicar seu livro seguinte - que deveria acompanhar Hans Reiser um homem acusado de matar a esposa. Ainda que seja interpretado por Christian Slater, a história de Hans não recebe muita atenção na história, servindo apenas para que Stephen perceba algumas de suas obsessões com relação à sua história de vida. Fica evidente o que atraiu Franco para o papel, já que Stephen curte sadomasoquismo, medicação pesada e ainda lidava com as marcas de uma adolescência complicada, pena que o roteiro nunca aprofunda os aspectos mais sombrios da personalidade do escritor. O tom sombrio fica por conta das cenas escuras e um certo desleixo nos cenários e figurinos. Quando os personagens começam a revelar que existe algo de estranho na própria personalidade de Elliot, o filme fica mais interessante - especialmente por conta de Ed Harris que encarna um pai apresentado como abusivo, mas que apresenta uma inesperada dimensão humana. Quando Elliot aprende que suas lembranças são apenas partes de uma realidade - que pode até surpreender quando vista de outra perspectiva - The Aderall Diaries mostra o motivo de merecer atenção, afinal, instiga a mudança do olhar de um narrador sobre si mesmo. Curiosamente o filme lembra em vários aspectos outro lançamento de James Franco no ano passado, o drama A História Verdadeira de Rupert Goold.
Traumas de Infância (The Adderall Diaries/EUA-2015) de Pamela Romanowsy com James Franco, Ed Harris, Christian Slater, Amber Heard, Cynthia Nixon e Jim Parrack. ☻☻☻
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