Ryan: fazendo História.
Desde a primeira cena o diretor Damien Chazelle já demonstra qual será a pegada de seu filme sobre a vida do famoso astronauta Neil Armstrong, o primeiro homem a colocar o pé na Lua. Nos primeiros minutos somos jogados dentro de uma cabine junto ao protagonista, sem entender muito bem o que está acontecendo, numa sensação claustrofóbica, repleta de barulhos e movimentos bruscos do que é ser levado para fora da Terra. Outras experiências parecidas irão acontecer durante o filme e Chazelle, que sempre opta por um olhar bastante particular sobre estes momentos com base na perspectiva interna de Armstrong. A experiência de assistir a O Primeiro Homem é bem diferente do que muita gente imaginava quando o projeto foi anunciado. Não existem cenas repletas de efeitos especiais sobre o lançamento de naves e a vida no espaço, a opção é mais intimista e realista possível. Sendo um recorte sobre a vida de uma pessoa tão famosa e, ao mesmo tempo, com um ofício tão distante da maioria dos mortais, Chazelle não se esquiva de abordar a vida pessoal do personagem e seus dramas pessoais, especialmente no que diz respeito ao relacionamento com a esposa, Janet (Claire Foy) e os dois filhos - além do efeito que a morte da filha pequena tem sobre o casal. Vale ressaltar que com a morte da pequena, existe uma sensação estranha de que a morte ronda o casal. Não é novidade que o trabalho de um astronauta é arriscado, mas não lembro de ter visto um filme que o desglamourizasse com tanto empenho. Dos treinos exaustivos, enjoos, explosões e baixas pelo caminho, o filme se distancia daquela ideia do sonho de um menino e se aproxima de uma espécie de pesadelo profissional - que o diga Janet que fica cada vez mais nervosa com a tensão que se instaura dentro de casa conforme o dia de tudo ir para o espaço se aproxima. O filme ainda explora outros pontos que envolviam a corrida espacial americana, o clima de Guerra Fria, a preocupação com os gastos, os protestos, as coletivas de imprensa repletas de intrigas construindo uma espiral que só alimenta o estresse dos envolvidos. Sobre o elenco, sei que muita gente tem o pé atrás com Ryan Gosling, o consideram robótico, inexpressivo, mas aqui, seu estilo sisudo ajuda muito a projetarmos as emoções sobre ele. Este fato valoriza ainda mais a presença de Claire Foy, que serve de ótimo contraponto, já que ela é uma espécie de âncora humana do personagem com o mundo real, que o conecta com o lar, com os filhos e vizinhos, mesmo que de vez em quando um conflito seja inevitável. Na corrida pelo Oscar, Foy é uma das favoritas ao prêmio de atriz coadjuvante o que é ótimo para uma atriz revelada em uma série da Netflix (The Crown). Dificilmente Chazelle faria um filme tão fora da caixinha de Hollywood se não houvesse recebido seu Oscar de direção pelo seu segundo filme, La La Land/2016 aos 32 anos (o primeiro foi o excelente Whiplash/2014), no entanto, existe aqui uma dificuldade com o ritmo, que pesa bastante na duração do filme (140 minutos), se fosse mais enxuto tornaria a experiência ainda mais imersiva para o espectador. Em vários momentos o filme se arrasta sem necessidade, o que complica sua jornada rumo às premiações de fim de ano, parece que faltou um amigo para dizer ao diretor que ele não precisa ser prolixo para ser maduro.
O Primeiro Homem (The First Man / EUA - 2018) de Damien Chazelle com Ryan Gosling, Claire Foy, Jason Clarke, Kyle Chandler, Corey Stoll, Patrick Fugit, Christopher Abbott, Ciarán Hinds, Olivia Hamilton e Pablo Schreiber. ☻☻☻☻
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