Elsie Fisher: a dura vida de uma millenial.
Eight Grade é um filme independente dirigido por Bo Burnham que está indicado em quatro categorias do Independent Spirit Awards por levar para a tela um olhar sincero (e um tanto perturbador) sobre a adolescência dos tempos atuais. A protagonista tem treze anos e está prestes a terminar a oitava série (nosso equivalente ao nono ano) e ir para uma escola de Ensino Médio, mas ao invés de investir nas desventuras de uma jovem do subúrbio americano na escola - como trocentos filmes já fizeram - o filme pretende lançar um olhar diferente sobre a adolescência dos Millenials (os jovens nascidos no século XXI, acostumados à internet desde a infância e que tem o celular como uma extensão do próprio corpo). Em torno de Kayla, Burnham cria um olhar bastante peculiar à grande parcela da juventude que passa o tempo inteiro conectado, curtindo postagens em rede sociais e gravando vídeos para internet na esperança de ser notado - e ser considerado especial pelos seus pares. No entanto, uma juventude que tem uma dificuldade danada de manter contato social com quem está ao lado. O filme não se esquiva de apresentar como é difícil para estes jovens dialogarem, mas tem uma facilidade impressionante de começarem uma discussão com familiares e colegas sem saber muito bem o motivo - numa tentativa de demonstrar que sabem argumentar mais do que realmente sabem (o comportamento típico do adolescente anabolizado por toneladas de informação consumidas, mas não filtradas, diariamente). Na trajetória de Kayla isto aparece na cena do shopping e em (quase) todas as vezes que o pai (um terno Josh Hamilton) tenta conversar com ela. Como qualquer pessoa, Kayla tem a necessidade de sentir-se especial, mas vive num universo em que ser especial se confunde com ser popular como as garotas mais chatas da escola, mas que ela necessita da companhia para ser notada e, segundo ela, querida. Ela está tão preocupada sobre o que fazer para ser notada que nem percebe como é desgastante criar sua farsa particular, especialmente no mundo virtual. Se na internet seus vídeos dão dicas de comportamento para adolescentes (com toda a sabedoria e ternura que uma adolescente de treze anos é capaz de ter), na vida real, sua rotina tende a caminhar para o oposto. Esta contradição cotidiana é explorada pelo filme em vários elementos, especialmente pela narrativa em off ou da trilha sonora eletrônica um tanto retrô - que tende a dar uma atmosfera mais animada do que a vida de Kayla realmente é. Repleto de teens com celulares nas mãos em todas as cenas, o roteiro reserva à personagem uma caminhada sutil de crescimento ao perceber que talvez os laços mais importantes se anunciem. Elsie Fisher está ótima na pele de Kayla que descobre a necessidade de traçar seus próprios caminhos para além das máscaras tecnológicas. Vale destacar como a escola é uma ambiente que só amplia como o mundo adulto é perigoso - de rotulação explícita de alunos no auditório, passando por treino de ataque com arma de fogo, seja no corredor ou em sala de aula...). Diante do mundo intimidador, a jornada de Kayla lembra um pouco a de Dawn Winner de Bem-Vindo à casa de Bonecas (1995), clássico indie de Todd Solondz - mas aqui ela tem a sorte do diretor Burnham ter um olhar mais carinhoso sobre a protagonista (o que não impede a angústia do espectador durante a sessão). Se equilibrando entre o bom humor e o drama Oitava Série tem personalidade e um olhar bastante astuto (e um pouco ácido) sobre os conflitos adolescentes no mundo de hoje.
Oitava Série (Eight Grade / EUA -2018) de Bo Burnham com Elise Fisher, Josh Hamilton, Emily Robinson, Daniel Zolghadri e Jake Ryan.
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