Robert, David e Eddy: estranhos mistérios.
Em 1980 um rapaz de dezenove anos foi para uma faculdade nos Estados Unidos e ficou surpreso com a receptividade dos colegas que nunca o viram antes. Bastou uma pessoa chamá-lo por um nome que não era dele para ter certeza de que estava sendo confundido com outra pessoa. No entanto, não se tratava de um incidente qualquer. Levado por um colega, que ficou impressionado com a semelhança entre os dois, a um telefone, o mesmo ficou impressionado que do outro da linha houvesse uma voz igual a dele. As semelhanças não pararam por aí, os dois haviam nascido na mesma data e na mesma cidade, não restava dúvida: os dois eram gêmeos. O assunto ganhou atenção da mídia e a surpresa só aumentou quando um terceiro irmão surgiu na história. A alegria foi imediata, assim como a conexão entre os três, que começaram a se complementarem como irmãos de toda uma vida. A semelhança entre eles extrapolava a aparência, os gostos eram parecidos e até a estrutura familiar era semelhante - embora a situação financeira delas fosse diferente. O trio virou celebridade, aparecendo até no cinema (sim, fizeram uma pontinha em Procura-se Susan Desesperadamente/1985), abriram um restaurante de sucesso e tudo poderia ser uma grande alegria se o fato de trigêmeos separados no nascimento já não fosse o ponto de partida de uma história bem mais sombria. Diante de um material destes, o documentarista Tim Wardle constrói uma narrativa que é um primor! Juntando cenas de arquivo, entrevistas e reconstituições com atores, o filme mergulha numa estranha história que concilia suspense e drama de uma história real. É na segunda parte do filme (justamente depois da criação do tal restaurante) que o filme se torna mais sombrio ao abordar o que havia por trás daquela história - que era muito mais do que um centro de adoção desalmado que separou três irmãos. O que se revela é uma história que beira o inacreditável, que oferece marghem para especulações infinitas sobre aquela situação surreal. O filme oferece uma reflexão bastante interessante sobre o comportamento humano (será que existe mesmo um equilíbrio entre a base biológica e a influência do meio na construção da personalidade? Até que ponto temos livre arbítrio sobre os rumos de nossas vidas? Qual a importância da educação realizada pelos pais? Até que ponto o convívio com os irmãos influencia nosso comportamento? E por aí vai...). Em alguns pontos esta história real lembra o fictício Predestinados/2018 (e acho que esta afirmação já diz mais do que o necessário), mas revela-se cada vez mais assustadora por deixar pontos ainda obscuros sobre a história dos irmãos separados quando tinham apenas seis meses de idade. Ainda que o mistério persista (e ainda persistirá por muito tempo, conforme o filme aponta) existe uma série de ponderações que podem ser bastante fiéis aos objetivos por trás do que assistimos. Três Estranhos Idênticos é um dos filmes mais impressionantes que assisti neste ano e permanecerá comigo por um bom tempo (e não duvido que em breve irá gerar um filme "baseado em fatos reais").
Três Estranhos Idênticos (Three Identical Strangers / Reino Unido - 2018) de Tim Wardle, com Eddy Galland, David Kellman, Robert Shafran, Andrew Lovesey e David Straus. ☻☻☻☻☻
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