sexta-feira, 23 de novembro de 2018

PL►Y: Benzinho

Karine e Sarris: a quase ausência. 

Lançado em agosto nos cinemas brasileiros, Benzinho foi logo aclamado como um dos filmes mais ternos do cinema nacional. Fica fácil perceber o motivo quando se assiste ao novo filme de Gustavo Pizzi, já que ele envereda por um caminho diferente da maioria dos filmes brasileiros recentes. Ele não constrói uma trama marcada por criminalidade, não investe em cenas polêmicas ou num humor bobo que apela para a vulgaridade. Na verdade, ele vai num caminho contrário a tudo isso e causa até um estranhamento por investir em movimentos mais abstratos de serem retratados. O filme poderia ser somente sobre o amor de uma mãe pelo filho, mas ele se amplia de tal forma que fica até difícil apontar se ele é sobre isto ou aquilo. No centro da história está Irene (Karine Telles), esposa, mãe e mulher que batalha ao lado do marido para criar quatro filhos. Não é acaso que na primeira cena, por conta de um problema na porta, a mãe fica presa dentro de casa com os filhos - e desde então, todos precisam sair por uma janela ao longo do filme. A situação financeira da família não está fácil! A obra na casa nova vive parada e o pequeno negócio do marido (Otávio Muller numa composição bem mais contida do que estamos acostumados) não vai bem, mas Irene faz o que pode para colocar dinheiro dentro de casa: vende roupas de cama, prepara quentinhas, produz sacolés... na certeza que que pode conseguir algo melhor, ela também está prestes a se formar no Ensino Médio. Nesta estrutura familiar cabe até a irmã Sonia (Adriana Esteves) que diante dos problemas com o esposo agressivo leva até o filho para viver na casa de Irene. No entanto, diante de tantas situações, o que tira mesmo Irene do eixo é quando seu filho mais velho, Fernando (Konstantinos Sarris, não é impressão sua, o garoto nasceu na Grécia mesmo) recebe uma proposta para ir jogar handebol na Alemanha. Dali em diante, existe uma luta de sentimentos ambíguos em Irene. Ela tem consciência de que é uma grande oportunidade para o filho, mas embora considere que ele possa ajudar nas despesas da casa, ela silenciosamente, preferia que ele ficasse ao lado dela. O filme poderia até enveredar pela ideia de que ele é o filho que mais participa do cuidado com os irmãos e com a casa, mas o roteiro prefere deixar isso de forma quase invisível, preferindo explorar  a dificuldade daquela mãe cortar o cordão umbilical com seu primogênito. É uma história que se desenvolve nas entrelinhas e mistura sentimentos diversos que são muito bem trabalhados por sua protagonista Karine Telles. Telles (que também assina o roteiro e ficou famosa como a patroa de Que Horas Ela Volta?/2015) está brilhante em cena, em seus silêncios os olhos e expressões revelam todas as emoções complicadas que vivencia. O medo do desconhecido, a necessidade de proteger o filho, a saudade que sentirá com a distância, ao mesmo tempo existe uma pitada de egoísmo e  insatisfação para o que o futuro revela. Tudo se mistura na personagem, que  nunca diz o que está realmente sentindo (mesmo quando ela parece dar uma surtada ao se dar conta de que o filho irá embora de verdade ela foge por uma tangente). A história de Benzinho se revela nas sutilezas do relacionamento daqueles personagens, um recorte que é tão espontâneo que se assemelha ao olhar sobre pessoas que moram na casa ao lado. É um filme bastante diferente, com humor sutil e sensibilidade para se tornar universal em seu retrato de como o amor pode ser cheio de ambiguidades. Não é uma tarefa fácil conduzir um filme assim - e ele bem que merecia ser o candidato brasileiro à uma vaga no Oscar de Filme Estrangeiro do ano que vem. Benzinho é tão simples e terno que chega a ser surpreendente.

Benzinho (Brasil/2018) de Gustavoi Pizzi com Karine Telles, Otávio Müller, Konstantinos Sarris, Adriana Esteves, César Troncoso e Mateus Solano. ☻☻☻☻

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