Freida: uma flor vermelha à beira da estrada
Deve ser estranho um diretor ser multipremiado por um filme considerado sua obra-prima e depois ser recebido com alguma indiferença em sua obra seguinte. Foi isso o que aconteceu com Julian Schnabel em
Miral, que apesar de alguns elogios não chegou a empolgar o público, a crítica ou os votantes das grandes premiações. Não se trata de um filme ruim, mas uma obra que fica abaixo das expectativas geradas pelo efeito de
O Escafandro e a Borboleta (2007) na cinematografia de Schnabel. Miral busca contar a história do Estado de Israel a partir da história de quatro mulheres palestinas (o que não deixa de ser uma novidade na obra do diretor, que possuía filmes com foco em protagonistas masculinos). Baseado na obra autobiográfica de Rula Jebreal, o filme começa muito bem com a história de Hind Husseini (vivida com a competência de Hiam Abass) que entre os conflitos em Jerusalém encontra um grupo de crianças órfãs vivendo nas ruas, ela as acolhe e cria um orfanato que começa abrigando pouco mais de cinquenta crianças - mas rapidamente chega a mais de mil crianças cujo as famílias foram vítimas dos conflitos na região. Enquanto conta a história desta mulher determinada e elegante o filme prende fácil a atenção, mas o filme opta por desviar da história de Hind e contar a vida de Nadia (a bela Yasmine Elmasri), que cansada de sofrer abusos foge de casa e passa a ganhar a vida como dançarina. Vítima de preconceitos ela acaba presa e conhece uma presidiária que lhe apresenta um homem (Alexander Siddig), que torna-se seu marido e pai de Miral (Freida Pinto). Depois de algumas tragédias na vida de Miral, percebemos o motivo de Schnabel ter tomado esse desvio, já que Miral torna-se uma das alunas do orfanato de Hind Husseini, agora uma instituição respeitada por moradores e políticos locais. No entanto, Miral considera a postura da diretora da instituição e de seu pai conformistas demais, ao ponto de se meter com revolucionários com queda para o terrorismo e ódio racial contra judeus. Apesar de ser responsável pelo nome do filme, Miral é a personagem menos interessante do filme. Não que Freida Pinto não dê conta das descobertas de sua personagem, seja no romance com um líder terrorista ou ao ter uma amiga judia, mas fica a impressão de que o roteiro a trata apenas como uma adolescente rebelde, sem saber enriquecer sua história com a trajetória das mulheres que antecederam sua parte no script. A história de Miral acaba ficando em cima do muro entre a postura da moça e a impressão apolítica com que vê seus responsáveis. Suas descobertas rumo a uma visão de mundo menos unilateral são até interessantes, mas não possuem a força das histórias que acompanhamos antes da câmera se enamorar por ela. Vale registrar que Schnabel se esforça para não criar um filme maniqueísta, mas quem já viu filmes magníficos como
Persépolis (2007),
O Que Resta do Tempo (2009) e
Incêndios (2010) sabe que
Miral dá apenas um passo a frente do lugar comum. Apesar do cuidado do diretor em criar belas cenas tristes e dar corpo a mulheres fortes, infelizmente o filme não alcança as notas altas que ambicionava.
Miral (França/Israel/Itália/Índia - 2010) de Julian Schnabel com Freida Pinto, Hiam Abass, Yasmine Elmasri, Alexander Siddig, Willem Dafoe e Vanessa Redgrave.
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