Blunt e Dornan: um romance estranho.
Se este ano Belfast traz personagens irlandeses de volta ao Oscar, ano passado houve a tentativa de fazer o mesmo com Além das Montanhas, mas não funcionou. A campanha do filme apelava para as estrelas do elenco e a forma "bem humorada" com que lida com os estereótipos sobre o país e seus habitantes. Com o período escasso de lançamentos por conta da pandemia, imaginava-se que o filme teria chances de fazer bonito na temporada de premiações, mas com o tempo as críticas mornas se tornaram cada vez mais desanimadas e o filme passou longe dos prêmios que ambicionava. Agora em cartaz no Prime Video, fica fácil entender o motivo de tanto desdém às ambições da produção, apesar do filme evocar a todo tempo o clima de comédia romântica europeia, o desenvolvimento da história é tão confuso que é fácil o espectador se perder diante dos fatos apresentados. No centro da trama estão Anthony (Jamie Dornan) e Rosemary (Emily Blunt), os dois cresceram no interior da Irlanda e se conhecem desde pequenos. No entanto, são herdeiros de duas famílias que disputam o mesmo território que separam suas fazendas. Desde criança existe um sentimento platônico de Rosemary por Anthony, que era apaixonado por Fiona, que foi embora. Anthony vive trabalhando nos campos, mas nada é suficiente para agradar o pai viúvo (Christopher Walken) enquanto a mãe viúva de Rosemary, Aoife (Dearbhla Molloy) tenta amenizar os ânimos entre as duas famílias durante o final de sua vida. Quem assina a direção é John Patrick Shanley, renomado dramaturgo que levou o Oscar de roteiro original pelo texto de Feitiço da Lua (1987) e que aqui adapta mais uma de suas obras do palco para a tela. Anteriormente ele fez o mesmo com Dúvida (2008) que foi indicado a cinco categorias no Oscar. Porém, o que ele faz aqui está mais para sua insossa estreia como cineasta, o fracassado Joe Contra o Vulcão (1990) a malfadada primeira parceria de Tom Hanks com Meg Ryan nas telas. O material que serve de base para o filme é o roteiro da peça Outside Mullingar que foi indicada ao Tony de Melhor Peça em 2014 e na transposição para o cinema, Shanley capricha nas locações montanhosas da Irlanda, capricha na fotografia e escolhe um elenco de peso, mas em termos de narrativa cinematográfica o filme é uma bagunça. A edição tem uma dificuldade enorme em lidar com a saída de cena de personagens importantes, o humor parece sempre deslocado e alguns diálogos parecem até preconceituosos com os irlandeses. A salvação poderia ser Jon Hamm na pele do primo americano de Anthony que forçaria um triângulo amoroso à certa altura da história, mas nem isso o filme sabe lidar direito. Optando por ser uma colagem de excentricidades, o filme desperdiça o talento de seu elenco e estraga o seu casal principal no desfecho em um dos longos diálogos mais bizarros do cinema recente. Chega a dar pena de Emily Blunt e Jamie Dornan, este em sua cruzada a ser levado a sério como ator. Aqui ele não faz nada de errado, mas a estampa que Deus lhe deu não o deixa muito convincente como o patinho feio inseguro em seguir a vida amorosa (o segredo esdrúxulo do personagem não ajuda muito). Com a trama emperrada, Além das Montanhas pode até agradar por sua embalagem atraente, mas não sinta-se culpado se dormir alguns minutos ao longo da sessão.
Além das Montanhas (Wild Mountain Thyme/ Irlanda - Reino Unido - EUA /2021) de John Patrick Shanley com Emily Blunt, Jamie Dornan, Chritopher Walken, Jon Hamm, Deabhla Molloy e Clare Barrett. ☻☻
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