Macbeth de William Shakespeare é um dos meus textos favoritos de todos os tempos. A trama é densa, os acontecimentos são sombrios, os diálogos são dissimulados... enfim, virtudes literárias não faltam em uma peça teatral que ganhou ao longo dos tempos o apelido de "maldita". Logicamente que o fato de ser uma das obras mais famosas do bardo inglês faz com que de vez em quando um cineasta deseje fazer a versão definitiva para o cinema. Orson Welles fez sua tentativa em 1947, mas não empolgou muito. Polanski fez sua versão em 1971 e com o tempo acabou chamando atenção. Em 2015 o australiano Justin Kurzel tentou dar uma modernizada no texto em Macbeth: Ambição e Guerra, mas dividiu opiniões, já o brasileiro Vinícius Coimbra fez uma versão contemporânea com A Floresta que se Move/2015 e passou praticamente em branco nos cinemas. Quando se fala de Shakespeare no cinema, existem aqueles que curtem o texto na íntegra e outros que gostam inovar. Estes dois grupos distintos raramente chegam a um consenso em torno do resultado de um filme shakesperiano e com A Tragédia de Macbeth não é diferente. A versão de Joel Coen (separado pela primeira vez de seu irmão, Ethan) bebe diretamente no teatro, mas não descarta os recursos cinematográficos em um projeto tão ousado quanto calcado no que podemos considerar clássico. Se o texto teatral está todo ali, seus cortes, planos, referências ao expressionismo alemão, cenários minimalistas e uso de alguns efeitos especiais demonstram que Joel está longe de querer fazer o simples feijão com arroz, mas também não quer fazer a estética se sobrepor ao texto que tem em mãos. Parece que todo o conceito geral foi sugestão de Frances McDormand, que está ótima como Lady Macbeth, ela e Denzel Washington constroem uma das melhores parcerias vista nas telas em 2021, mas foi Denzel que caiu nas graças das premiações, concorrendo pela nova vez a um Oscar de atuação (vale lembrar que ele já tem duas estatuetas na estante). Denzel está ótimo como o senhor que ao voltar da guerra é anunciado como futuro rei por uma bruxa (ou seriam três vividas magnificamente por Kathryn Hunter), com vontade de apressar as coisas, ele e a esposa tramam para assassinar o rei (Brendan Gleeson) e quem mais aparecer no caminho. Começa então um verdadeiro massacre no reino pelo desmedido casal, que aos poucos evidenciam a loucura e a culpa a quem estiver ao redor. Produzido pela Apple TV, o filme se tornou um dos filmes mais elogiados e complicados de se encontrar em cartaz durante a temporada de ouro. Parece um daqueles casos em que o resultado é apontado como "sofisticado demais" para render boa bilheteria. De fato, a mescla de cinema e teatro não é para todos os gostos, especialmente com as cenas desagradáveis que o filme apresenta ao longo da sessão. No entanto, o resultado é bastante interessante de assistir, especialmente que ao levarmos em conta a idade dos atores (ele tem 67, ela tem 64) a produção adiciona um ponto diferente nesta trama: o tempo. Diante da ausência de filhos e a idade avançada, existe um fator a mais no desespero ambicioso que move os protagonistas desta tragédia. O filme também foi lembrado em outras duas categorias no Oscar: design de produção e fotografia, que contribuem como motivos para assistir ao filmes. Outro motivo é o fato de se tratar de uma produção estrelada por protagonistas nascidos nos Estados Unidos com um diretor compatriota que distancia-se de sua zona de conforto (com uma boa dose de coragem e virtuosismo).
A Tragédia de Macbeth (The Tragedy of Macbeth/EUA-2021) de Joel Coen com Denzel Washington, Frances McDormand, Brendan Gleeson, Kathryn Hunter, Alex Hassell, Bertie Carvel, Brendan Gleeson, Harry Melling, Corey Hawkins, Matt Helms e Moses Ingram. ☻☻☻☻
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