sábado, 19 de março de 2022

PL►Y: Os Olhos de Tammy Faye

 
Jéssica: primeira vitória no Oscar? 

Parece que as duas indicações ao Oscar não garantiram a estreia de Os Olhos de Tammy Faye nos cinemas brasileiros, o filme entra em breve no catálogo do Star+ . Concorrendo ao prêmio de maquiagem e penteados, além de estar cada vez mais forte no páreo de Melhor Atriz pela performance de Jessica Chastain, o longa de Michael Showalter é um projeto antigo da atriz. Baseado no premiado documentário de mesmo nome lançado em 2000, Jessica teve vontade de levar a história da famosa evangelista dos Estados Unidos aos cinemas em uma versão dramatizada, especialmente pela oportunidade de ouro que uma personagem tão controversa rende à uma artista. O filme deixa claro que Tammara Faye tinha fascínio pela religião desde pequena, não por acaso na faculdade ficou interessada por Jim Bakker (no filme vivido por Andrew Garfield), que já tinha gosto por pregações. Os dois se apaixonam, se casam e por conta disso são expulsos da faculdade que frequentavam. No entanto, não pareciam abalados já que tinham em mente a construção de um verdadeiro império religioso. Os dois de fato o construíram. A bordo de um canal de TV (a rede PTL do qual eram astros de vários programas), alegavam pregar a palavra de Deus enquanto lucravam cerca de cem milhões de dólares anualmente. Tanto dinheiro deixou para trás a vida simples e as dificuldades para pagar as prestações do carro, mas também chamavam a atenção da receita federal e da mídia para as diversas denúncias de fraude em torno de Jim. O filme procura contar esta ascensão e queda do casal perante as câmeras, sem perder de vista os problemas conjugais que enfrentavam na luxuosa mansão em que viviam. Questões como a sexualidade de Jim, o vício de Tammy em Diet Coke e remédios aparecem no filme, assim como a carreira fonográfica de Tammy e as polêmicas deflagradas quando ela declarava apoio à comunidade gay em meio à propagação das AIDS nos anos 1980 - o que ia contra tudo o que a pauta evangélica e conservadora pregava. São tantos elementos interessantes que é quase inacreditável que o filme não encontre fôlego para manter a narrativa interessante a maior parte do tempo. Se no início a direção evoca uma brincadeira com o estilo cafona (repare nas letras dos créditos iniciais) dos telefilmes dos anos 1970 e 1980 (o auge do casal Bakker), aos poucos o filme não sabe se pode mergulhar de vez na chacota ou se levar a sério, ficando num sem sal em cima do muro. Michael Showalter fez um trabalho interessante em seu Doentes de Amor (2017), mas aqui ele não sabe muito bem o que fazer com o material que tem em mãos, faltou alguém com gosto para lidar com personagens tão ambíguos como Craig Gillespie provou ter nos últimos anos (seja com Eu, Tonya/2017 ou Cruella/2021 ou na minissérie Pam & Tommy/2022), aqui Showalter não sabia se adorava Tammy Faye ou se a julgava. Uma pena já que toda a ambientação do filme é fabulosa e Jessica Chastain devora a personagem com um gosto impressionante. Famosa por seu engajamento longe das câmeras, ela prova aqui mais uma vez o seu talento entre o cômico e o dramático. Ela sempre eleva o filme e a personagem (famosa por sua maquiagem pesada reproduzida com próteses que rumo ao final deixa Jessica irreconhecível) para além da indiferença. Premiada com o SAG e o Critic's Choice, a atriz ganhou força e se tornou a favorita ao Oscar nas últimas semanas. De fato é um trabalho impressionante que consegue refletir a energia, otimismo e até a ingenuidade da personagem para escorregar em seus pecados. Pena que lhe faltou um filme à altura para coroar seu talento. 

Os Olhos de Tammy Faye (The Eyes of Tammy Faye - EUA/2021) de Michael Showalter com Jessica Chastain, Andrew Garfield, Cherry Jones, Vincent D'Onofrio, Sam Jaeger e Louis Cancelmi. ☻☻

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