Bradley: os monstros são os humanos.
Quando Stanton Carlisle (Bradley Cooper) chega procurando emprego em um circo, ele é um perfeito desconhecido. Ninguém sabe nada sobre a sua história ou sobre o que ele pretende dali para frente. A plateia, no entanto, teve a cena inicial para deixar um verdadeiro mistério pairando ao redor dele - o que levanta suspeitas de seu passado triste ou das atrocidades de que ele é capaz de cometer. Em sua temporada no circo, ele faz amizade com o administrador Clem Hoatley (Willem Daffoe) e encontra abrigo no trailer da cartomante Zeena (Toni Collette) e do mentalista Pete (David Strathairn), ela interessada na estampa de galã do moço, ele animado com a ideia de ter um pupilo. Mas Stanton parece interessado em Molly (Rooney Mara), uma doce donzela capaz de suportar altas correntes elétricas todos os dias em sua apresentação todas as noites. Porém, este ambiente de tipos curiosos e aberrações, será apenas a primeira parte do filmes, que colocará nos ombros de Stanton a suspeita de mais ações condenáveis. Dois anos depois, ele está na cidade ganhando dinheiro com a apresentações como mentalista, até chamar a atenção da psicanalista Lillith Ritter (Cate Blanchett) e começar a utilizar suas habilidades em outras formas de ganhar dinheiro. Famoso por seus trabalhos sobre monstros e fantasias, Guillermo Del Toro volta aos cinemas quatro anos depois dos Oscars (incluindo filme e direção) de A Forma da Água/2017 na nova adaptação do livro de Willaim Lindsay Gresham (1909-1962), que já fora adaptado em O Beco das Almas Perdidas (1947). Durante o anúncio do projeto, a pergunta que pairava no ar era a motivação de Guillermo em levar para as telas um clássico que teve sua cota de problemas na época do lançamento (especialmente com a censura), mas o diretor deixou claro que seria mais fiel ao livro do que ao filme e os conhecedores do material original, imaginavam que o estilo e plasticidade do cinema de Del Toro não decepcionariam. Visualmente não existe o que reclamar de O Beco do Pesadelo, ele é belíssimo de se ver e ouvir, mas constrói para si o desafio de conciliar duas partes distintas de sua história, são partes complementares, mas distintas e que por vezes parece uma mistura de óleo e água. Tive a impressão de assistir dois filmes em um, no primeiro os elementos do terror clássico estão todos lá (o passado do protagonista, o homem fragilizado transformado em ser bestial que habita o circo, o bebê morto dentro do vidro), construído com todo o apuro estético de Del Toro, mas esta parte parece arrastada até que a segunda parte comece a colocar alguns pontos em seus devidos lugares num verdadeiro jogo de manipulações que dará um triste caráter circular ao filme em seu desfecho. Bradley Cooper se esforça num papel complicado, que nunca tem sua história contada plenamente, o que faz com que perca força perante alguns dos coadjuvantes ao seu redor - sobretudo as mulheres que atravessam seu caminho e um assombrado (e assombroso) Richard Jenkins quase irreconhecível. O resultado é um horror noir estiloso que tem seus bons momentos, mas que peca pela ambição ornada de afetação em vários momentos. É um bom filme, mas que perde fôlego em duas horas e meia de duração, ainda assim, surpreendeu ao cravar sua indicação a Melhor Filme no Oscar2022, além de concorrer nas categorias de fotografia, design de produção e figurino (afinal, a vida de Gary pode ser um pesadelo, mas é embrulhado no capricho). Guillermo Del Toro prova mais uma vez que, mesmo quando não alcança todas as notas que deseja, sua autoria é sempre um deleite.
O Beco do Pesadelo (Nightmare Alley / EUA - México - Canadá / 2021) de Guillermo Del Toro com Bradley Cooper, Cate Blanchett, Rooney Mara, Toni Collette, Willem Dafoe, Richard Jenkins, David Strathairn, Ron Perlman e Tim Blake Nelson. ☻☻☻
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