Zoe e Battinson: início de carreira.
Batman é o super-herói que mais recebeu versões para o cinema. Desde os anos 1990 diretores de estilos completamente diferentes levaram às telas suas concepções distintas sobre o herói com recepções completamente diferentes, alcançando por vezes o sucesso (Tim Burton), o vexame (Joel Schumacher), a consagração total (Christopher Nolan) e a controvérsia absoluta (Zack Snyder). Depois de tantas versões do herói na telona, chegou a vez do diretor Matt Reeves mostrar o que pensa sobre o homem-morcego. Sua ideia já gerava debates quando chamou Robert Pattinson para entrar na Batcaverna (e a galera que acha que o ator ainda é aquele iniciante de Crepúsculo, precisa ver Bom Comportamento/2017 , O Farol/2020 e High Life/2018 urgentemente). Pattinson parece feito sob medida para encarnar um herói em início de carreira, inseguro com a persona que criou para si afim de exorcizar o trauma pela morte de seus pais quando era menino (cena que Reeves faz o favor de não repetir, embora faça boa parte da trama girar em torno disso). Esta fase inicial se reflete em tudo, na batcaverna, nos apetrechos utilizados, nos "tombos experimentais"... Bruce Wayne aqui não sabe muito o que fazer da vida. Vive recluso. Perambula escondido pelas ruas de Gotham City e parece mais à vontade na pele do herói mascarado do que na do herdeiro milionário (que parece não dar a mínima para o legado da família). Sua relação com Alfred (Andy Serkis) aqui é bem menos afetuosa que nas versões anteriores, assim como ele também não posa de playboy mulherengo para disfarçar sua personalidade das trevas. Gotham City em si é a própria treva. Sombria e de ambientações sujas, a cidade ferve em corrupção e mentiras que envolvem nomes importantes e influentes da cidade, ao ponto de quando um outro mascarado resolve expor a sujeira, ele consegue influenciar uma legião de fãs que passam a vê-lo como um verdadeiro herói. O Charada (em performance marcante de Paul Dano) executa crimes brutais que expõem o que os poderosos de Gotham preferem esconder. Deixa pistas para a polícia do Comissário Gordon (Jeffrey Wright) e para Batman (que ainda desperta desconfiança e desconforto à maioria dos policiais). Conforme a podridão é exposta, Batman se depara com a sordidez de Pingüim (Colin Farrell irreconhecível e cheio de energia), do mafioso Falcone (John Turturro) e de outras figuras importantes de Gotham. Porém, ele treme mesmo quando conhece Selina Kyle (Zoe Kravitz), que busca uma amiga desaparecida que está metida na espiral de criminalidade que o roteiro mergulha em suas três horas de duração. Mistura de filme de super-herói, com filme noir, suspense, terror e investigação policial, Matt Reeves mistura aqui tramas que renderiam dois filmes facilmente. São tantas camadas, personagens, arcos e pontas a serem amarradas com um visual pesado, cru e agressivo que é impossível ficar indiferente ao que se vê na tela. Em tempos de heróis coloridos e piadinhas, Batman vai no caminho oposto. É sombrio, escuro e um tanto deprimente e, por isso mesmo, surpreende. Reeves resgata a origem detetivesca de Batman e cria uma trama em que o personagem não é ofuscado pelos seus inimigos, além disso, constrói um universo tão rico para seu Batman iniciante que termina deixando a sensação que ainda há muito mais a ser explorado. Interessante como, assim como Coringa (2019) o filme consiga captar o espírito do seu tempo ao retratar uma sociedade capaz de se apegar a discursos violentos de ódio para justificar atrocidades. O longa bebe muito na fonte de clássicos de David Fincher (especialmente Se7en /1995 e Zodíaco/2007), mas o faz com tanta personalidade que é impossível reclamar. Fiquei bastante curioso em imaginar o que vem por aí no próximo filme que virá por aí. Se a potência que vemos aqui é só o início do que Reeves e Pattinson tem a oferecer, vem muita coisa boa por aí.
Batman (The Batman/EUA-2022) de Matt Reeves com Robert Pattinson, Zoe Kravitz, Paul Dano, John Turturro, Andy Serkis e Colin Farrell. ☻☻☻☻
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