Se me perguntarem o motivo de gostar dos filmes de Mike Mills, não sei se saberia explicar direito. Existe algo na forma como o diretor escolhe contar suas histórias que me soam muito agradáveis e, o mais importante, consegue fazer com que suas obras se comuniquem de uma forma única com minhas memórias afetivas. Depois das indicações ao Oscar por Mulheres do Século XX /2016 (indicado a Melhor Filme e Roteiro Original), o diretor lançou C'mom C'mon, que passou em branco no radar da Academia, o que não quer dizer absolutamente nada sobre os méritos do filme. A trama gira em torno de Johnny (Joaquin Phoenix), radialista que prepara um documentário baseado em entrevistas com crianças de diversas cidades sobre o que elas observam no mundo ao seu redor e o que elas esperam do futuro. No meio dos trabalhos, ele recebe a ligação de sua irmã Viv (Gaby Hoffmann), que enfrenta problemas com a instabilidade emocional de seu esposo (Scoot McNairy) e precisa da ajuda do irmão para cuidar do filho, Jesse (Woody Norman). O encontro entre os dois foge dos caminhos óbvios e cutucam feridas do relacionamento de Johnny e Viv, questões simples que em família sempre ganham outras dimensões e se tornam manchas nas relações sem que saibamos exatamente o porquê. De certa forma, as brincadeiras e tristezas já vividas pelo menino fazem com que os laços se estreitem cada vez mais com o tio, que absorvido pelo trabalho parece ter deixado a vida pessoal um tanto de lado. Vale ressaltar a leveza que Joaquin Phoenix dá a este personagem e sua química com o adorável Woody Norman, que está bem a vontade com as peculiaridades de Jesse. O filme avança aos poucos, no tempo de convivência entre estes dois personagens de idades tão diferentes e a forma como um afeta o outro em sua relação com o mundo. Não existe dramalhão, diálogos bregas ou manipulações emocionais, como nos filmes anteriores de Mills, parece um recorte na vida dos personagens com seus dilemas e alegrias, numa cadência muito semelhante à vida comum de qualquer mortal. No entanto, ouso dizer que este é o filme mais simples de Mills, não existe as grandes digressões ou flashbacks de Mulheres do Século XX ou Toda Forma de Amor (2011), chega a ser mais simples até do que Impulsividade (2005), mas consegue tratar de forma genuína o encontro de dois personagens de gerações diferentes e que são capazes de aprender um com o outro pelo caminho do afeto nas adversidades do caminho. Acho que o fato de ter alguns pontos em comum com Johnny (solteiro, sem filhos, trabalhando longe da família e apegado ao sobrinho) o filme me afetou de forma ainda mais especial. Embora tenha alguns problemas de ritmo, Sempre em Frente é uma delícia de assistir (e tem aquele final com sabor de despedida que deixa um nó na garganta). Vendo o menino eu lembrei que Joaquin e Gabby Hoffman estrearam ainda pequenos, ele com oito anos em séries de TV e ela com seis no clássico O Campo dos Sonhos/1989 e sempre fico curioso imaginando o que talentos precoces como Woody reservam de bom para o futuro.
Sempre em Frente (C'mon C'mon / EUA - 2021) de Mike Mills com Joaquin Phoenix, Woody Norman, Gabby Hofmann, Scoot McNairy e Molly Webster. ☻☻☻☻
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