domingo, 31 de julho de 2022

PL►Y: Persuasão

 
Dakota: fazendo o que pode. 

Não deixa de ser surpreendente que o atual filme a ser massacrado a ser lançado pela Netflix seja uma adaptação da cultuada escritora inglesa Jane Austen. Venerada por plateias até hoje, a autora costuma render boas adaptações para o cinema e, como ela não possui tantos livros assim (seis romances publicados, uma peça de teatro, um conto, duas obras incompletas e alguns textos que escreveu antes de ser consagrada), chegou a hora das refilmagens começarem a ser tornar comuns. Assim, alguns diretores tendem a buscar um diferencial para suas obras, assim como as comparações se tornam inevitáveis. Persuasão é uma obra póstuma de Jane, publicada em 1818, um ano depois da morte da escritora aos 41 anos de idade. Neste livro estão lá a visão astuta da sociedade da época, uma sensibilidade especial para desenvolver a situação das mulheres naquele período e aquela refinada ironia na abordagem de convenções sociais e relações de classe. No filme da Netflix dirigido pela diretora Carrie Cracknell (famosa por seus trabalhos no teatro e versões televisionadas no programa National Theatre Live) o que existe é a tentativa de modernizar o que já é bom - e o resultado não agradou. A trama gira em torno de Anne Elliot (Dakota Johnson), mocinha que foi pedida em casamento pelo amor de sua vida, Wentworth (Cosmo Jarvis), mas que foi persuadida a não aceitar a proposta por conta da origem humilde do rapaz. Acontece que ele foi para as forças armadas e ela seguiu a vida. Oito anos depois ele está de volta e ela continua solteira... cogitando que ter aceitado aquela proposta não era uma ideia tão ruim assim. Da trama original de Austin, sobrou exatamente esta premissa, já que todo resto é uma versão diluída de todo o estilo e intenções da escritora. Para os fãs da escritora trata-se de um sacrilégio, para o resto dos mortais pode ser um passatempo aceitável, ainda que o filme soe cada vez mais sem graça no decorrer de suas quase duas horas de duração. Até mesmo o recurso que coloca Anne quebrando a dita quarta parede e conversando com o espectador não parece bem utilizada. Se o longa já sofria comparações com as versões anteriores da obra, a coisa piorou quando o uso deste recurso de falar para a câmera rendeu comparações com a cultuada série Fleabag, especialmente pela ausência da qualidade de escrita esperta de Phoebe Waller-Bridge. Resta ver o esforço de Dakota Johnson para entreter a plateia ao lado do charme de Cosmo Jarvis e Henry Golding (que vive Mr. Elliot). O fato é que para além de Fleabag eu vi traços de uma tentativa de inserir a história num universo próximo de outra série de sucesso, Bridgerton da própria Netflix. Como dá para perceber, este Persuasão parece com coisas demais para soar como Jane Austen. 

Persuasão (Persuasion/EUA - 2022) de Carrie Cracknell com Dakota Johnson, Richard E. Grant, Henry Golding, Cosmo Jarvis, Jordan Long, Simon Paisley Day. 

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