Wang e Trevor: pendenga familiar.
Confesso que não conhecia o trabalho de Patrick Wang que está em cartaz na MUBI com todos os seus filmes por tempo limitado, mas confesso que fiquei instigado com o que vi no seu sensível filme de estreia: Em Família. O filme poderia ser a história de um casal homoafetivo e sua rotina com a criação de um filho, mas o destino (ou o roteiro) prepara um acidente de carro para Cody (Trevor St. John) e deixa Joey (Patrick Wang) com a tarefa de criar o pequeno Chip (Sebastian Braodziak), ou pelo menos seria assim se vivêssemos num mundo ideal... como não estamos, Joey irá se meter numa verdadeira pendenga judicial com a irmã do companheiro, que não apenas quer a casa em que viveu até o falecimento de Cody, como também quer a guarda legal do menino que está prevista no testamento deixado pelo falecido. Acontece que a história desta família tem alguns detalhes que serão esclarecidos somente no decorrer da trama em cenas de flashback que contam como os dois se conheceram e passaram a formar um casal e gerou o estranho testamento - que nunca foi revisto pelo falecido. Lembrando que o filme é de 2011, espero que a perspectiva apresentada aqui tenha mudado, já que ela beira ainda mais o absurdo (mas não duvido que ainda aconteça por aí). Se todos sabiam que Cody e Joey eram um casal, seria óbvio que Joey era a pessoa mais indicada para cuidar de Chip (fruto do casamento de Cody com a esposa que pereceu no parto) é o viúvo. No entanto, a ideia de uma vontade sagrada do finado (respaldada por um conservadorismo tacanha) perpassa toda a discussão do filme. Assim, não bastasse a dor de ter perdido o parceiro, o protagonista ainda perderá tudo conquistado afetivamente na relação. Esta pendenga familiar rende até uma cena de audiência das mais constrangedoras em que uma série de insinuações sobre a vida particular de Joey são postas em julgamento, mas que não dissipa a pergunta enunciada por ele na reta final: em que momento ele deixou de ser o Joey para se tornar um completo estranho daquela família? Em Família fica mais interessante quando paramos de demonizar o papel de irmã e percebemos como às vezes as pessoas são capazes de crueldades impensáveis para silenciarem a sua própria dor. Obviamente que ela sente falta do irmão e o sobrinho simboliza o que resta dele e faz com que deseje que esteja sempre por perto, mas por outro lado, isso demonstra um egocentrismo que só acarreta situações em que o preconceitos variados emergem sem grande esforço. Embora eu considere a longa cena da audiência um tanto apelativa e melodramática, o efeito pesadão é dissipado magistralmente na cena final. Em Família é um drama familiar, mas bem que poderia ser visto como um filme de horror em família, assim como outro filme sobre amores entre iguais e suas famílias "amigáveis", o bom O Amor é Estranho (2014). Ambos os filmes parecem beber na mesma fonte e tocam em feridas que pareciam não existir em torno de seus personagens gays e seus parentes amorosos...
Em Família (In the Family / EUA-2011) de Patrick Wang com Patrick Wang, Trevor St. John, Sebastian Broadziak, Lisa Altomare e Conan McCarty. ☻☻☻☻
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