Uma das sensações mais deliciosas do universo (e sempre que escrevo isso, penso em fazer uma lista prosaica listando as dez mais na minha humilde opinião) é você encontrar um filme do qual você nunca ouviu falar, assistir e perceber que ele é um verdadeiro tesouro. Tive esta sensação esta semana com Psychobitch, dramédia romântica adolescente norueguesa que estava prestes a sair da MUBI - o que me fez correr para assistir na minha lista. O filme se passa quase o tempo todo dentro de uma escola em meio às situações mais corriqueiras da adolescência. A trama gira em torno do garoto exemplar Marius (Jonas Tidemann), que tem ótimo comportamento, tem boas notas, é esportista e precisa lidar com seu total oposto: Frida (Elli Rhiannon Müller Osborne), uma garota instável com fama de temperamental, irresponsável e um tanto doidinha (pois é, o título do filme é em sua homenagem). Eis que um professor resolve juntar os dois para fazerem um trabalho (e com isso melhorar as notas da menina) e, os dois começam a se estranhar até que começam a perceber que os sentimentos que começam a nascer entre ambos podem ser bastante transformadores para ambos. Este é o terceiro filme do diretor Martin Lund que demonstra aqui o quanto é esperto para saber que o melhor do cinema é compor uma cena e não ficar descrevendo para o espectador o que se vê na tela. Aqui os personagens não precisam ficar ressaltando oralmente as suas características para nos fazer entender o que se passa na cabeça de cada um deles (e estamos falando de adolescentes, o que torna tudo ainda mais complicado). Desde o início sabemos que Marius é um bom moço, assim como percebemos que existe um bocado de dor e ação defensiva no comportamento de Frida (que tem sua cota de fantasmas para exorcizar). O mais legal é a forma como o laço entre o jovem casal de fortalece e mexe um bocado com a estrutura das relações que os cercam, seja com os pais, com os colegas, com a pretendente que nunca sabe direito o que quer fazer... o fato é que Lund parece manjar bem sobre este universo e faz com que o filme cresça com as inseguranças de seus personagens, os medos, as pretensões e os conflitos com aquele momento em que você se vê diante da escolha de deixar de ser o que os outros esperam de você e ser o que você deseja. Psychobitch pode até ser previsível, mas é conduzido de forma impecável e bastante sensível sobre as dores da adolescência e os amores que serão eternos enquanto durem. É precisa ressaltar a importância da trilha sonora e o trabalho dos jovens atores no resultado final. Elli consegue nos fazer simpatizar gradativamente com sua personagem conforme o roteiro lhe oferece novas camadas, assim como Marius que por vezes tem algumas atitudes questionáveis em nome de uma reputação que nem ele sabe se quer continuar mantendo. Uma verdadeira pérola que se tornará um clássico juvenil europeu no meu calejado imaginário cinéfilo.
Psycobitch (Noruega/2019) de Martin Lund com Jonas Tidemann, Elli Rhiannon Müller Osborne, Saara Sipila-Kristoffersen, Bethina Nærby e Eilov Gravdal. ☻☻☻☻
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