Assistindo à interpretação de Maggie Gyllenhaal em A Professora do Jardim de Infância, eu só lembrava de sua estreia na direção com A Filha Perdida (2021). Se no antológico Secretária (2002) a atriz de rosto meigo já demonstrava sua atração por personagens complexos em seus trabalhos como atriz (o que deixa o contraste ainda mais interessante), com sua estreia atrás das câmeras, demonstrou também extrema habilidade narrativa emoldurando este tipo de protagonista (tanto que foi indicada ao Oscar pelo roteiro adaptado do livro de Helena Ferrante). Caso o roteiro caísse nas mãos dela hoje em dia, provavelmente a Maggie iria tentar fazer deste seu novo projeto na direção. Desculpe se daqui em diante possa aparecer alguns SPOILERS. Não sei se é apenas na minha cabeça, mas enxergo um bocado de semelhanças entre os dois filmes. A primeira delas é que ambas tratam de professoras. A segunda é que ambas estão visivelmente insatisfeitas. A terceira é que a relação que possuem com os filhos vai de mal a pior. A quarta é que eu não ficaria surpreso se a personagem de Olivia Colman fizesse exatamente o que a de Maggie neste aqui se tivesse a chance - e existem semelhanças nos desdobramentos reservados ao roteiro sobre o "sequestro" de algo importante. Vamos à história: Lisa Spinelli (Maggie Gyllenhaal) é a professora do título que parece ter deixado de achar graça no trabalho. A vida em família também não anda muito empolgante. Por debaixo de toda a rotina, percebe-se que existia uma mulher com grandes ambições literárias que foram silenciadas ao longo do tempo e das obrigações que ele trouxe. Sua vida recebe uma luz diferente quando ela descobre em sua sala um menino de cinco anos capaz de fazer poesias espontaneamente. Lisa fica fascinada com a forma como o garotinho diz seus pensamentos de forma poética e tenta contar com a ajuda da babá dele para descobrir outras preciosidades que ele possa recitar ao longo do dia. Jimmy (Parker Sevak) é um menino comum, que não recebe muita atenção da família, mas que aos poucos Lisa começa a construir uma verdadeira obsessão. Admiradora das criações do menino, ela começa a ter atitudes cada vez mais radicais em nome do talento que enxerga nele, mesmo que isso possa custar tudo o que construiu até ali. A diretora Sara Colangelo utiliza o encontro destes dois personagens em fases de vida completamente diferentes em suas vidas para que a professora comece a entrar em conflito com o que construiu em sua vida e os desejos que tinha para si. Diante das suas atitudes cada vez mais desesperadas existe um tanto de fazer o que se pode para preservar o talento do menino, mas também um tanto de medo de cair no abismo que ela mesmo construiu para si perante o pragmatismo da vida adulta. A Professora do Jardim de Infância é um destes filmes aparentemente simples que se torna mais interessante quando notamos o que está em suas entrelinhas, e estas são escritas com maestria por Maggie em um dos melhores trabalhos de sua carreira de atriz.
A Professora do Jardim de Infância (The Kindergarten Teacher/ EUA - 2018) de Sara Colangelo com Maggie Gyllenhaal, Gael Garcia Bernal, Michael Chernus, Parker Sevak e Sam Jules. ☻☻☻☻
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