domingo, 10 de julho de 2022

PL►Y: A Queda do Império Americano

 
Landry (a esquerda): o motivo para o filme funcionar. 

O cineasta canadense Denys Arcand possui dois filmes premiados e fundamentais em sua carreira: O Declínio do Império Americano (1987) e As Invasões Bárbaras (2003). O primeiro ajudou a colocar o nome do diretor no mapa cinéfilo mundial e lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Filme Estrangeiro com a história de um grupo de amigos intelectuais que se reúne para passar alguns dias juntos e discutirem sobre os relacionamentos modernos nos anos 1980 em plena ressaca da liberação sexual. O título com pinta de tese de doutorado escondia uma comédia astuta que brincava com o conservadorismo dos Estados Unidos (e de Hollywood) enquanto seus personagens falavam de sexo quase o tempo todo. Dezessete anos depois, o mesmo grupo de amigos se reúne em uma realidade completamente diferente. Envelhecidos e com problemas com casamentos, filhos e doenças, As Invasões Bárbaras eleva à enésima potência a popularidade do primeiro filme, foi premiado como o melhor roteiro e melhor atriz (Marie-Josée Croze) no Festival de Cannes daquele ano. No total foram cinquenta prêmios internacionais, que inclui ainda o Oscar de Filme Estrangeiro, porém, desde então, a carreira de Arcand perdeu fôlego. Realizo este retrospecto só para dizer da sensação enganosa que é ver seu último filme, A Queda do Império Americano (2018) ostentar este título e não ter relação alguma com os dois filmes anteriores. Pode ser apenas uma provocação com seus fãs ou apenas a necessidade de chamar atenção para um filme que é interessante de assistir, mas que está bem distante do auge criativo do cineasta. A trama conta a história de Pierre (o bom Alexandre Landry), um entregador que dá o azar de estar na hora errada no lugar errado e presenciar um assalto desastroso. Como o assalto dá errado, ele vê a chance de levar para casa uma mala cheia de dinheiro, mas não faz a mínima ideia do que fazer com tudo aquilo sem chamar atenção das autoridades. Ele acaba contratando um ex-presidiário (Remy Girard) para lidar com a grana e um contador inescrupuloso (Pierre Curzi) para enviar tudo para um paraíso fiscal. Paralelo a isso, existe uma investigação para encontrar o dinheiro desaparecido e as ações dos bandidos dispostos a encontrar o que consideram ser deles de direito. Arcand mistura tudo isso e cria uma comédia politicamente incorreta um tanto irregular, mas que prende a atenção do espectador que torce para que o protagonista de bom coração se dê bem no final da trama. Neste ponto, vale destacar o talento e carisma de Landry, que deixa um personagem sem sal ser digno de torcida ao lado dos veteranos Girard e Curzi (que aparecem nos outros filmes citados do cineasta citados acima). Seria maldade não mencionar a vida romântica do rapaz ao precisar lidar com todas as suspeitas que pairam sobre a prostituta de luxo vivida por Maripier Morrin. Embora esteja longe de estar entre os melhores filmes de Arcand, pelo menos o filme consegue ser mais atraente do que seus antecessores, A Era da Inocência/ 2007 e O Reino da Beleza/2014 (que tinham mais pompa e menos graça), o que não impede que A Queda do Império Americano esteja esquecido no catálogo da Netflix há algum tempo. 

A Queda do Império Americano (La chute de l'empire américain / Canadá - 2018) de Denys Arcand com Alexandre Landry, Maripier Morrin, Remy Girard, Pierre Curzi e Vincent Leclerc. 

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