Vá saber o que se passa na cabeça de um produtor para lançar mais um filme de uma das franquias de terror mais cultuadas do cinema e resolver cortar seu número do título. A ideia pode parecer confusa ao espectador desavisado que pode entrar no cinema e imaginar que é uma refilmagem ou um reboot, quando na verdade esta nova edição de Pânico é o início de uma nova fase para a saga idealizada por Wes Craven (falecido em 2015) e o roteirista Kevin Williamson. A cinessérie sempre foi famosa pelo tom esperto com que analisa e explora os clássicos e seus clichês do terror, sendo assim, esta nova cria não poderia ser diferente. Talvez a maior graça do filme seja a forma como ele gira em torno das cenas e fatos do primeiro, sem deixar de tecer comentários sobre o culto aos lançamentos do chamado novo terror (que nada mais é do que o terror clássico que precedeu os slasher movies), fato que rende o diálogo inicial do filme com Tara Carpenter (Jenna Ortega) - que reverencia diretamente a antológica cena com Drew Barrymore no original. Aqui muitos anos se passaram depois do primeiro Ghost Face que perseguia Sidney (Neve Campbell) e seus amigos na cidade de Woodsboro. Novamente, a história também reserva um segredo sobre a mãe da protagonista, Sam Carpenter (Melissa Barrera) que deixou a família para trás sem deixar motivo, mas que guarda um segredo relacionado a todos os filmes anteriores. Quando sua irmã começa a ser perseguida por um novo assassino, ela volta para a cidade natal junto com o namorado (Jack Quaid) e, um tanto cética quanto à maneira de resolver a situação, vê uma série de vítimas se amontoando diante de suas tentativas para salvar a irmã. Os crimes chamam a atenção dos sobreviventes dos filmes anteriores, além de Sidney (que considera ter know-how suficiente para entender as regras do jogo e ajudar Tara), a repórter Gale Weathers (Courntey Cox) e o policial Dewey (David Arquette) também aparecem para ajudar, colocando também as suas vidas em risco. A dupla de diretores Matt Bettinelli e OlpinTyler Gillett fazem um filme bastante controlado para emular os anteriores, mas se esforçam para criar características próprias de uma nova mitologia, pena que os personagens que apresenta são bem menos interessantes. Pitadas aqui e ali sobre tecnologia e o comportamento dos millenials ajudam a sugerir um novo fôlego para a franquia, mas em termos de esperteza, perde para todos os que o precederam - especialmente na capenga forma como aponta para todo lado sugerindo suspeitos que pouco importam. Seria uma maldade dizer que falta aqui a destreza de Wes Craven para lidar com situações e personagens - e os diretores criam homenagens ao diretor durante a sessão, assim como John Carpenter, diretor do primeiro Halloween e marco do gênero ao batizar as duas irmãs perseguidas com seu sobrenome. Este novo Pânico pode até iniciar uma nova fase na franquia, mas, como estou velho e um tanto rabugento, ainda me empolgo mais com a original.
Pânico (Scream / EUA - 2022) de Matt Bettinelli e OlpinTyler Gillett com Melissa Barrera, Neve Cambbell, Jack Quaid, Courteney Cox, David Arquette, Jenna Ortega, Mikey Madison, Dylan Minnette, Kyle Gallner e Marley Shelton. ☻☻
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