domingo, 24 de janeiro de 2021

PL►Y: O Tigre Branco

 
Adarsh e Raj: o peso de uma casta sobre a outra. 

Baseado no best-seller de Aravind Adiga, O Tigre Branco acabou de chegar na Netflix e merece atenção pela energia que exala do filme. O longa conta a história de Balram (Adarsh Gourav), que era um menino inteligente e poderia ter seguido nos estudos se a avó  não houvesse o retirado da escola para explorá-lo tal e qual fez com o pai dele (até que este morresse de tanto trabalhar com tuberculose). Embora sejamos apresentados à infância miserável  do protagonista, ele está em uma situação bastante diferente quando começa a narrar sua história. Aos poucos percebemos que Balram conta como conseguiu mudar de vida. Tudo indica que foi a partir do momento em que aprendeu a dirigir para se tornar motorista de uma família de casta superior, mas... é mais complicado do que parece. Embora tenha que enviar boa parte do seu salário para a família no interior, ele percebe que sua vida melhorou, embora uma sucessão de humilhações torne sua rotina cada vez mais insuportável. Embora ele fique cada vez mais próximo de Ashok (Rajkummar Rao), o herdeiro de seu patrão, que estudou nos Estados Unidos e voltou casado com Pinky Madam (Priyanka Chopra), a amizade entre os dois parece sempre se equilibrar numa corda bamba, que se desequilibrará de vez quando um acidente acontecer e a relação entre os três personagens se tornar cada vez mais insustentável. Dali em diante, os rumos de comédia dramática impressa pelo diretor Ramin Bahrami caminha cada vez mais para o suspense, já que Balram começa a considerar que dentro daquela rotina dificilmente ele mudará de vida, não importa o quanto seja educado, esperto e prestativo, diante das regras que já estão estabelecidas, ele sempre ficará estagnado no mesmo lugar. Neste momento que nos damos conta de que estamos diante de um anti-herói que é lapidado lentamente pelo carisma do ator Adarsh Gourav (que domina magistralmente as guinadas de seu personagem). Repleto de comentários sobre a cultura indiana e seu sistema de castas (misturado com política e corrupção), além de alfinetadas em Bollywood (que jamais investiria em um filme com as tonalidades ácidas apresentadas aqui) e até no oscarizado Quem quer Ser um Milionário (2008), O Tigre Branco começa como uma comédia modesta que se torna cada vez mais robusta conforme vigora o desgaste de seu personagem principal. Embora tenha se complicado na última meia-hora (quando o filme se torna mais sombrio), o cineasta Ramin Bahrami (que é nascido na Carolina do Norte/EUA, mas é filho de iranianos) faz aqui um filme bastante envolvente e se beneficia muito de ter vendido sua obra para a Netflix, já que embora seus filmes sejam elogiados sempre ficam desconhecidos pelo público (só lembrar de 99 Casas/2015), vale lembrar que ele foi o responsável pela nova versão de Fahrenheit 451 (2018) para a HBO. Aqui sua marca de comentários sociais contundentes aparece ainda mais cortante e  temperada com mais humor do que costuma empregar (até no final subversivo). 

O Tigre Branco (The White Tiger/ EUA-India / 2021) de Ramin Bahrami com  Priyanka Chopra, Rajkummar Rao, Adarsh Gourav, Vijay Maurya e Swaroop Sampat. ☻☻☻

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