Shannon, Garfield e Lomax: produzindo sem tetos.
Existe um motivo para que sempre ressaltem história de oprimidos que se tornam opressores: na vida real, isso é mais comum do que se imagina - especialmente diante de um sistema onde para se ter mais e preciso que alguém tenha menos. 99 Casas de Ramin Bahrani conta uma história dessas sem se preocupar com sutilezas. Desde a primeira cena nos damos conta de que Rick Carver (Michael Shannon) tem um dos piores empregos do mundo, mas não está nem aí para isso. Seu trabalho é despejar pessoas que perderam a casa para os bancos por não conseguirem pagar prestações de financiamento ou hipotecas. Eis que um dia, Carver cruza o caminho da família de Dennis Nash (Andrew Garfield), jovem rapaz que trabalha em obras para sustentar a família formada pela mãe (Laura Dern) e o filho pequeno (Noah Lomax). No entanto, a crise na economia americana prejudicou várias áreas deixou Dennis sem trabalho e dinheiro para quitar as suas dívidas. Despejado da casa que não conseguiu pagar, o rapaz pensa em seguir em frente e retomar sua casa, mas não sabe como... até que começa a trabalhar para o próprio Rick Carver, fazendo com os outros o que fizeram com ele. Assim, ele ganha mais dinheiro (e muito mais rápido) para ter sua casa de volta e ter um estilo de vida que nunca sonhou. A grande diferença é que falta à ele a indiferença de Carver para fazer o trabalho desagradável - o que faz Dennis enfrentar seus próprios dilemas morais com a situação em que se meteu. Bahrani, que é nascido nos EUA e filho de imigrantes iranianos, cria uma história interessante a partir do que Michael Moore já apresentava (com sua histeria habitual) em Capitalismo: Uma História de Amor (2009), onde apresentava o número cada vez maior de famílias sem teto nos EUA por conta de dívidas com os bancos. Bahrani não se concentra em taxas de juros, motivos da crise econômica, especulação imobiliária ou banqueiros maquiavélicos, mantendo o foco somente nas medidas (inclusive trambiques) que Carver e Nash adotam para driblar um sistema que não prima pela justiça. Nessa trajetória, Andrew Garfield tem a chance de se recuperar do marasmo que se tornou sua carreira enquanto se tornou o pouco Espetacular Homem-Aranha (2014), aqui é visível sua facilidade em criar um personagem tão humanamente falho, mas quem rouba a cena é Michael Shannon (indicado ao Globo de Ouro e prêmio do Sindicato de Atores como coajuvante) ao criar mais um personagem complicado.Rick Carver está longe de ser um dos tipos esquisitos que o ator cria com facilidade, Shannon faz questão de fazê-lo como apenas mais um homem que aprendeu a deixar de ver o outro e enxergar somente os próprios interesses. Em 99 Casas resta saber se seu pupilo terá o mesmo destino.
99 Casas (99 Homes / EUA-2015) de Ramin Bahrani com Andrew Garfield, Michael Shannon, Laura Dern, James Brown, Noah Lomax e Luke Sexton. ☻☻☻☻
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