Toro e Depp: corações (drogadamente) psicodélicos.
Faz tempo que considero o diretor Terry Gilliam perdido. Acho que desde 1995, ano em que lançou o antológico 12 Macacos que o ex-Monty Python anda tropeçando ao contar suas histórias. O primeiro passo para o estado atual de sua carreira foi quando se meteu a adaptar esta obra de Hunter S. Tompson para a telona. Tompson ficou famoso por sua escrita estravagante que deu corpo para o chamado jornalismo gonzo, onde autor, sujeito, ficção e não-ficção se misturavam numa espécie de narrativa de um universo paralelo aos parâmetros realistas do jornalismo. No livro, Raoul Duke viaja para Las Vegas para cobrir uma corrida de motocross e uma convenção de promotores públicos sobre o uso de drogas. Além das toneladas de drogas das mais variadas, Raoul conta com a companhia de seu amigo bizarro Dr. Gonzo. Lançado em 1971 e ilustrado por Ralph Steadman, o livro se tornou um sucesso por ser uma jornada ironicamente psicodélica pelo "sonho americano". O texto freneticamente alucinado que mistura os assuntos favoritos do escritor (drogas, esporte, violência e política) pode conquistar fãs até os dias atuais, mas o filme de Gilliam é um desastre. Estrelado por Johny Depp na pele de Raoul Duke, o filme nunca consegue ser engraçado, dramático ou provocador. Resulta uma sucessão de uso de drogas envolto nas imagens calcadas nas alucinações mais doidas dos personagens. O resultado parece um teste de paciência para o espectador que precisa se contentar com uma dupla que consome maconha, mescalina, cocaína, LSD, éter entre outras substâncias alucinógenas como se estivessem comendo jujubas. Tanto consumo rende cenas esquisitas que nunca conseguem fazer com que o espectador se envolva com o fiapo de história. Claro que existem momentos interessantes como o restaurante de lagartos ou o tapete que ganha vida, mas é só! Visto hoje, o filme já mostrava alguns trejeitos que Depp usaria em vários de seus papéis esquisitos posteriores - o que só piora a situação do filme. Embora o elenco conte ainda com um bizarro Benicio DelToro, Tobey Maguire de cabelo mais do que esquisito e pontinhas de Cameron Diaz, Ellen Barkin, Flea e Lyle Lovett, o que mais chama atenção são os truques do diretor para reproduzir as alucinações dos personagens - além da fotografia de tons gritantes que estabelece o mundo apresentado como um universo além do nosso. Os diálogos acelerados, a edição rápida e a carência de um fio condutor para a trama deve transformar o filme em uma obra ainda mais árdua para o espectador. Acusado de fazer apologia ao uso de drogas o filme foi um fracasso nas bilheterias, mas não considero que seja por moralismo, mas por ser uma jornada tediosa e desinteressante guiada por dois sujeitos que nunca se tornam personagens, apenas caricaturas em si mesmos. O engraçado é ano passado, Depp voltou a viver um tipo bastante parecido criado por Tompson em Diário de Um Jornalista Bêbado, outro fracasso de bilheteria que prometo comentar em breve.
Medo e Delírio (Fear and Loathing in Las Vegas/EUA-1998) de Terry Gilliam com Johny Depp, Benicio DelToro, Cameron Diaz e Tobey Maguire. #
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