Lars: sobrevivendo ao fim do mundo.
Acho interessante como os filmes pós-apocalípticos recentes tem investido cada vez mais em uma realidade futurística onde o mundo se tornou um imenso deserto. Com o planeta insuportavelmente quente (pela gradativa destruição da camada de ozônio) e a consequente destruição da fauna, flora e dificuldade de reservas naturais de água potável, esta realidade parece cada vez mais próxima quando nos deparamos com termômetros denunciando temperaturas que beiram os cinquenta graus em nosso verão tropical. Um cenário desses poderia até render mais um filme catástrofe com a assinatura de Roland Emmerich, de 2012 (2011) ou O Dia Depois de Amanhã (2004), mas acabou gerando um filme alemão produzido por este diretor de blockbusters. Enquanto Roland dava os últimos retoques no seu shakesperiano pretensioso Anônimo (2011), ele bancou este filme modesto mas realizado com extrema competência pelo diretor Tim Fehlbaum. Um Inferno se passa num futuro próximo onde a exposição ao sol por tempo prolongado pode causar queimaduras fatais. Nesse ambiente desolador, duas irmãs e o namorado de uma delas vagam em busca de um lugar onde possam encontrar água ou mantimentos. Pelo caminho, precisam de combustível e disposição para driblar pessoas que estão dispostas a fazer qualquer coisa para se manterem vivas. É na parte onde o sol é uma ameaça - e com o reforço da premiada fotografia de luz cegante (e deslumbrante) de Markus Förderer - que o filme tem seus melhores momentos. Depois, quando o sol vai embora, é curioso como o filme se torna mais sombrio e próximo de um filme de terror do que pudessemos supor na construção da situação infernal anunciada pelo título. No caminho do trio, que logo se torna um quarteto, estão armadilhas que os levarão de encontro a uma família que esconde debaixo de sua aparente solidariedade, intensões não muito nobres. Embora Um Inferno nunca perca de vista as relações (maternais, fraternais ou sexuais) entre seus personagens (e aí reside um dos seus maiores méritos), sua originalidade se dissolve aos poucos numa trama que lembra tantas outras que já vimos em filmes de terror menos elaborados do que a proposta inicial de Fehlman. Ainda assim, as surpresas que Um Inferno arma o espectador consegue manter a atenção e envolver o espectador no embate estabelecido entre duas "famílias" pela sobrevivência. Até o final, que reserva alguma esperança para aqueles que sobrevivem a uma realidade tão árdua (e cada vez mais próxima), o título Um Inferno parece ser uma referência maior à barbárie do que ao calor ameaçador.
Um Inferno (Hell/Alemanha-2011) de Tim Fehlbaum com Hannah Herzprung, Lars Eidinger, Lisa Vicari, Stipe Erceg e Angela Winkler. ☻☻☻
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