Langella e (a voz) de Sarsgaard: simplesmente amigos.
Sempre que assisto ao filme Frost/Nixon (2008) me pergunto se o veterano Frank Langella não merecia mais aquele Oscar de ator do que Sean Penn. Seu trabalho é tão brilhante que desde então seus filmes receberam outra atenção de minha parte, tanto que ele foi um dos motivos para que eu gostasse ainda mais do desprezado A Caixa (2009) e ficasse inquieto quando soube da exibição deste Frank e o Robô no Festival de Sundance no ano passado. Ambientado num futuro próximo, o longa metragem de estreia de Jake Schreier consegue ser um filme tocante sobre solidão, amizade e envelhecimento. O filme poderia facilmente cair no melodrama, mas o diretor consegue manter o equilíbrio num roteiro original e bastante interessante. Recém chegado nas locadoras brasileiras, o filme merece atenção pela forma como aborda os temas de sua trama. Frank (Langella, em outra atuação excepcional) é um ladrão aposentado, que passa o tempo visitando uma biblioteca em fase de modernização (todos os livros serão escaneados e queimados... podem me chamar de antiquado, mas isso me dói só de imaginar). Ele recebe visitas mensais do filho (James Marsden) e conversa com a filha (Liv Tyler) através do videofone. Devido ao passado conturbado, Frank vive sozinho. Pela bagunça em sua casa e os problemas de memória que se agravam com o tempo, podemos perceber que Frank anda meio sem rumo. Sua companhia mais próxima acaba sendo a bibliotecária (Susan Sarandon) com quem parece manter um flerte constante. No entanto, a vida deste senhor tomará novo rumo quando ganha, de presente do filho, um robô programado para zelar pelo seu bem estar. No início ele estranha aquela companhia, mas com o tempo, descobre que ter o robô por perto pode não ser tão ruim - especialmente quando descobre que consegue driblar a programação dele e instruí-lo a realizar furtos pela vizinhança. Isento de dilemas morais e com grande habilidade com as mãos, o robô passa a ser o comparsa perfeito para o cansado ladrão. O curioso é que conforme a trama avança, percebemos que os dois se tornaram mais do que uma dupla de ladrões, mas amigos fiéis - ao ponto de Frank hesitar em apagar as memórias do parceiro, mesmo quando contem informações que possam depor contra ele. Este dilema é um dos elementos que tornam o filme mais interessante, especialmente pelo fato de um homem com a memória deteriorada não consegue conceber que uma máquina possa conviver com isso de forma tão passiva. Sem exageros na abordagem da relação entre os dois personagens, o filme consegue realizar um delicado desenho da dupla protagonista. Frank Langella tem ótimos momentos em cena, especialmente quando descobre o quanto sua mente pode ser traiçoeira. Sua atuação é acompanhada de perto pela interpretação (vocal) de Peter Sarsgaard como seu fiel escudeiro cibernético. Juntos eles conseguem dar aos dilemas morais e a ética distorcida de Frankie uma complexidade superior a maioria das dramédias lançadas recentemente. Ternamente sem pressa ao contar sua história, o filme tem tudo para se tornar cult com sua chegada às prateleiras.
Frank e o Robô (Robot & Frank/EUA-2012) de Jack Schereier com Frank Langella, Peter Sarsgaard, James Marsden, Liv Tyler, Susan Sarandon e Jeremy Sisto. ☻☻☻☻
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