Rebecca e o maridão: olhar gélido sobre a depressão.
Depressão pós-parto não costuma ser o centro de tramas sobre a maternidade, geralmente é um aspecto que aparece e depois desaparece feito mágica! No alemão O Estranho em Mim a coisa é bem diferente - já que o roteiro é totalmente voltado para o tema. Estudos afirmam que 15% das mães de todo o mundo sofrem desse mal por conta da confusão hormonal que se estabelece no organismo com a gestação. Até que tudo volte ao normal a vida da mamãe novata pode ser bastante complicada, tão complicada quanto a de Rebecca (Susanne Wolff). De início percebemos que ela encara a gravidez com naturalidade, tanta naturalidade que nem afeta sua vida sexual com o esposo (Johan von Buelow), mas as coisas mudam drasticamente com a chegada de seu pequeno filho. Sentindo-se deslocada, e até sobrecarregada com a responsabilidade de ter que zelar pelo pequenino, Rebecca avança da apatia para ameaça ao filho em poucos dias. Nesses momentos de angústia silenciosa o filme culmina na apavorante cena em que Rebecca cogita afogar o filho na banheira e cabe à atriz defender uma personagem que poderia cair facilmente na caricatura de uma vilã, mas ela consegue fazer com que Rebecca transpire estranhamento por si mesma. Do dia em que esquece o carrinho com o bebê no ponto de ônibus, ao dia que foge para um bosque e parece morta por algumas horas, percebe-se que Rebecca está longe de seus melhores dias. O interessante é que depois dessa parte centrada na personagem, o filme amplia o seu drama para a incompreensão da sociedade para a depressão pós-parto. Tratada como uma mãe desnaturada, família e amigos estão mais interessados em criticá-la do que ajudá-la a entender o que está acontecendo. Nessa parte é interessante perceber também o conflito do esposo, que se vê diante de uma situação complicada, onde a mãe torna-se uma ameaça para o bebê e resta-lhe perceber que a família que acaba de crescer está se desfazendo - e ele nem pode fazer muita coisa. Essa relação que tenta se reestabelecer no casal que confere alguma angústia ao momento em que Rebecca se submete ao longo e demorado processo de recuperação (onde o medo de errar enquanto mãe aparece nas situações mais simples). Sendo bem vindo por abordar um assunto difícil com bastante eficiência, O Estranho em Mim pode decepcionar pela frieza com que a diretora conta a sua história. Momentos como a cunhada frustrada que proíbe a mãe de pegar o filho no colo ou o momento em que o esposo precisa enfrentar os preconceitos para ter a família junta novamente mereciam um pouco mais de ímpeto do que o tom contido que perpassa toda a sessão. Fico pensando o efeito da cena do bebê na banheira se aparecesse numa novela das oito! Penso que cenas chocantes como essa que nos fazem pensar no que leva uma mãe a se desfazer de seu filho como se fosse um saco de lixo...
O Estranho em Mim (Das Fremde in Mir/Alemanha-2008) de Emily Atef com Susanne Wolff, Johann Von Buelow e Hans Diehl. ☻☻☻
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