Servillo e Yang: unidos pelo silêncio.
Sempre que imaginamos um malandro ele não costuma ser um sujeito como o protagonista de Gorbaciof, um homem de poucas palavras, sutis expressões faciais. Ele trabalha como caixa em um presídio e rouba o dinheiro do trabalho para sustentar o seu vício no jogo. O filme de Stefano Incerti deixa claro, desde o início, que irá imprimir à narrativa as características de seu personagem. Existem longos silêncios, ao mesmo tempo em que existe algo de desengonçado nos gestos e atitudes deste homem diferente. O apelido Gorbaciof lhe foi dado por conta da famosa mancha na testa (que alguns exagerados até consideravam uma marca da besta), e ele nem sempre lembra o próprio nome verdadeiro. Tirando a alegria (vivida com a tensão que só as mesas de jogo são capazes de proporcionar), sobra pouca coisa para que Gorbaciof (vivido por Toni Servillo com estranha precisão) ocupe seu tempo. Até o dia em que cai de amores pela bela Lila (Mini Yang), a filha do proprietário do restaurante chinês em que torra o dinheiro que rouba do trabalho. Lila é o total oposto de seu admirador, delicada e gentil, ele compartilha com ele o gosto pelo silêncio - já que ela só fala chinês e ninguém entende o que diz. Ele percebe que aquela garota frágil precisa de proteção e que ninguém poderá executar essa tarefa melhor do que ele. Eu pensava que deste ponto em diante o filme ficaria meio Taxi Driver (1976), mas caminha por um lado oposto. Incerti quer contar uma história de amor original e consegue construir belas cenas a partir dos encontros do casal, encontros em que os gestos e expressões faciais tornam as palavras completamente desnecessárias. São nesses momentos de intimidade silenciosa que aquele homem que parecia tão duro mostra outros traços de seu comportamento, traços que que pareciam não existir até que Lila cruzasse seu caminho. Apesar do roteiro se aventurar nas possíveis consequências dos roubos do personagem, o filme caminha para uma conclusão visivelmente idílica: uma viagem que marcará um recomeço na vida do par romântico. Pena que seu protagonista resolveu dar um passo maior que a perna e corre sério risco de arriscar a boa vida que ambiciona ao lado de sua amada. Apesar de interessante, eu ficaria muito mais satisfeito se o filme tivesse um final feliz. Com todo o caminho torto de Gorbaciof eu imaginava que ele realmente poderia ser feliz, mas o filme era mais realista do que eu imaginava.
Gorbaciof (Itália/2010)de Stefano Incerti com Toni Servillo, Mini Yang, Gaetano Bruno e Nello Mascia. ☻☻☻
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