Driss e Phillipe: quase um conto de fadas.
Muita gente reclamou quando este filme francês ficou de fora do páreo de filme estrangeiro no último Oscar. Grande sucesso nos cinemas brasileiros, Intocáveis conquistou fãs fervorosos em todo mundo, tão fervorosos que nem perceberam que o filme é um ótimo passatempo, mas que não tem nenhuma relação com o tipo de filme que a Academia costuma indicar na categoria. Apesar de arranhar superficialmente alguns temas polêmicos, como preconceitos e deficiência o filme consegue ser bastante leve e me lembrou as produções recentes que fizeram humor tendo como protagonistas pessoas com câncer (o igualmente francês O Ruído do Gelo e o americano 50%, ambos lançados em 2010) pela forma como organiza suas piadinhas. O filme gira em torno de Driss (o quase estreante Omar Sy), um rapaz que acaba de voltar para a casa de sua família depois de uma temporada na prisão. Driss vive do seguro desemprego e entrevistas de emprego que nunca dão certo... até que vai à casa do rico Phillipe (o veterano François Cluzet, que está cada vez mais parecido com Dustin Hoffman). Devido a um acidente, Phillipe encontra-se imobilizado do pescoço para baixo e se torna dependente de seus funcionários. Necessitando de acompanhamento constante, mesmo para suprir suas necessidades mais básicas, ele confia no jeito despachado de Driss para ser seu acompanhante, nesse relacionamento o rapaz irá aprender que zelar por alguém pode ser uma experiência de grande crescimento - ao mesmo tempo em que Phillipe recupera sua auto-estima enquanto doma seu orgulho, repensa sua relação com as pessoas que estão ao seu redor e até flerta com uma mulher com quem se comunica somente por cartas. O roteiro dos diretores Olivier Nakache e Eric Toledano faz de tudo para o público se divertir, ao ponto de nunca aprofundar demais os dramas e diferenças entre os personagens. Tudo é resolvido da melhor forma possível antes que o espectador possa ficar triste com as trajetórias deles. Existem momentos bem sacados como a cena de abertura onde a dupla engana a polícia ou as referências à excitação de Phillipe quando mexem em sua orelha, mas há momentos que são apenas questionáveis (a brincadeira com a chaleira na perna de Phillipe ou a cena em que Driss faz sua barba), além disso existe o apelo descarado de colocar músicas de Earth, Wind & Fire na trilha sonora. Baseado numa história real, Intocáveis é um filme simpático e bem feito sobre a amizade entre duas pessoas completamente diferentes (um endinheirado francês branco e um problemático senegalês), mas em vários momentos eu parecia estar vendo uma comédia americana falada em francês. Nada contra o cinema francês fazer um filme para as massas, mas adoraria que o filme mostrasse um pouco mais das dificuldades enfrentadas por seus personagens de forma mais realista e menos fabulosa (basta lembrar das dificuldades financeiras de um e a dinheirama do outro). Inofensivo por evitar questões polêmicas, Intocáveis é apenas uma boa diversão - e não tem vergonha disso.
Intocáveis (Intouchables/França-2012) de Olivier Nakache e Eric Toledano com Omar Sy, François Cluzet, Audrey Fleurot e Anne Le Ny. ☻☻☻
Nenhum comentário:
Postar um comentário